terça-feira, 29 de maio de 2012

EVENTOS EM CENTRO ESPÍRITA



Por Sergio Ribeiro

Bem, leitor, é nesse pé, infelizmente, que as coisas estão. Porém há eventos ainda mais acachapantes. 
Durante conferências públicas, certa instituição espírita do Rio não perde tempo e vende sem pestanejar (e sem vergonha) tômbolas e rifas para os presentes. Além de ilegal e repetitiva do que fazem os católicos, a prática é perturbadora do clima espiritual dessas horas e, ainda, constrangedora tanto para o público quanto para o orador. Mas pior é ler artigos de quem se julga com autoridade para orientar, inclusive com livros, o movimento espírita, defendendo a prática do jogo do bingo nas instituições, a fim de angariar recursos. É lastimável tamanha irresponsabilidade ética e religiosa. E por que não roleta, bacará, vinte-e-um, campista? Todos geram cornucópias de cruzeiros e dólares. 
Triste, tristíssimo atalho moral e espiritual. 
Continuemos. Certa fraternidade espírita se comprometia a abrir possibilidades para as pessoas vencerem na vida através do diagnóstico mediúnico do olhar. Consulta paga, é obvio... No local do antigo Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, em Vila Isabel, foi montada, em 1973, a Feira da Primavera. 
Conhecida instituição, genuinamente kardecista, armou a sua barraca. Logo na frente, alinhou uma série de garrafas cujas doses eram vendidas em benefício da instituição. Conteúdo: pinga, cachaça. Olhe o leitor que eu disse tratar-se de instituição genuinamente kardecista... Desculpa apresentada quando um verdadeiro espírita estranhou aquele comércio: as garrafas foram doadas...
Se fosse para vender livro, vá lá; mas pastel, banana, torta, linguiça... ah, essa não me desce na garganta. Talvez seja fastio. Fastio principalmente desse alimento putrescente que é o miasma de todos os atalhos. O Reformador de dezembro de 1966, p. 266, publicou valiosa nota condenando os bailes públicos em prol do espiritismo. Vale a pena também reler o artigo estampado na mesma revista de junho de 1948, p. 142, sobre festividades, músicas e bailes nas associações espíritas. Avalio, porém, como a melhor advertência, aquela que se contém na mensagem de Djalma Montenegro de Farias, psicografada por Divaldo Pereira Franco e inserida no Reformador de junho de 1960, pp. 135-136, sob o título "Templo Espírita". Copio dois parágrafos:
Lentamente, vai-se generalizando nos centros espíritas uma prática que é, positivamente, afrontosa ao lema que ostentamos em memória do Codificador do espiritismo: "Fora da Caridade não há Salvação". 
Desejamos referir-nos aos chamados movimentos financeiros, tais como: apelos de dinheiro, venda de rifas, brincadeiras cômicas para aquisição de moedas, concomitante ao serviço de difusão doutrinária, em casas de pregação e assistência.
Nesse sentido recordemos a linguagem vibrante de Jesus aos vendilhões do Templo, em Jerusalém, que transformavam o recinto de oração em balcões de comércio.
Conduta Espírita, André Luiz recomenda, no capítulo 14: "Sustentar a dignidade espírita diante das assembleias, abstendo-se de historietas impróprias ou anedotas reprováveis." 
Mas existe outro tipo de promoção, já bem ampla nas hostes espíritas, que extrapola qualquer diretriz do bom senso. É a instituição de dias comemorativos, a exemplo do que faz a Igreja Católica com a distribuição dos santos pelo calendário, a fim de serem efusivamente festejados. Não estou me referindo às datas de fundação das entidades, nem as rememorativas de algum acontecimento inquestionavelmente importante, do ponto de vista histórico, como a reencarnação de Allan Kardec, o lançamento de O Livro dos Espíritos, a descida de Jesus à Terra, etc. Isso é outra coisa. Refiro-me às extravagâncias que não passam de meras bajulações ou marcos estapafúrdios. Por exemplo: entidades, consideradas de bom conhecimento doutrinário, já propuseram, e algumas comemoram, religiosamente, o Dia da Mocidade Espírita (14 de 
maio), o Dia da Saudade (5 de outubro, para reverenciar a memória dos médiuns), Dia da Doutrina Espírita (31 de março, transformado em lei estadual), Dia do Médium (30 de maio, este para homenagear os que ainda estão encarnados, e cujo documento foi-me presenteado pelo Divaldo Pereira Franco, então horrorizado com a ideia; e há também o Mês do Médium, que é em agosto, com 30 dias de puxa-saquismo), Dia do Espírita (3 de outubro; e eu que pensei que o espírita fosse espírita todos os dias ... ) e, para encerrar esse folclórico calendário, o Dia da Caridade (19 de julho, transformado na lei federal nº 5036, de 4.7.1966). Este último é hilariante e muito digno das religiões que instituíram cronologia para a salvação, mas, sem dúvida, há de ser repudiado pelos espíritas sérios. Caridade com dia marcado? Onde já se viu isso? Caridade é para ser pensada e praticada em qualquer dia, a qualquer hora, sempre que for possível e desejável. E se se tratar apenas de data evocativa, também de nada vale, pois a evocação desse dever é permanente, como o é a do próprio bem. Já pensaram na hipótese de se criar o Dia do Bem, para que nos lembremos de sermos bons? Por favor, freiem a imaginação e poupem-me o riso (ou o pranto!).
No remate, a advertência de ouro feita por quem tinha verdadeira autoridade - Léon Denis: 
O Espiritismo propagou-se, invadiu o mundo. Desprezado, repelido ao começo, acabou por atrair a atenção e despertar interesse. Todos quantos se não imobilizavam na esfera do preconceito e da rotina e o abordaram desassombradamente, foram por ele conquistados. Agora penetra por toda a parte, instala-se em todas as mesas, tem ingresso em todos os lares. À sua voz, as velhas fortalezas seculares - a Ciência e a própria Igreja, até aqui hermeticamente aferrolhadas - arrasam suas muralhas e entreabrem suas portas. Dentro em pouco se imporá como soberano. 
Que traz ele consigo? Será sempre e por toda a parte a verdade, a luz e a esperança? Ao lado das consolações que caem na alma como o orvalho sobre a flor, de par com o jorro de luz que dissipa as angústias do investigador e ilumina a rota, não haverá também uma parte de erros e decepções? 
O Espiritismo será o que o fizerem os homens. Similia similibus! Ao contato da humanidade as mais altas verdades às vezes se desnaturam e obscurecem. Podem constituir-se uma fonte de abusos. A gota de chuva, conforme o lugar onde cai, continua sendo pérola ou se transforma em lodo.

Fonte: Item 28 de ‘O Atalho - Análise Crítica do Movimento Espírita’ por Luciano dos Anjos

domingo, 27 de maio de 2012

sábado, 26 de maio de 2012

O BARULHO DA VERDADE




Lucas, 17:1-2 = Marcos, 9:42-50 = Mateus, 18:6-11

Freqüentemente, em seus diálogos com os discípulos, Jesus usava simbolismo, cujo alcance assimilamos melhor na medida em que nos desenvolvemos nos domínios do conhecimento espiritual.
A contribuição espírita, neste particular, é fundamental, ajudando-nos a desenvolver olhos de ver e ouvidos de ouvir. É o que ocorre nas advertências de Jesus sobre os escândalos:
– Se alguém escandalizar a um destes pequenos que crêem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós que um asno faz girar e que o lançassem no fundo do mar.
Quem aprecia palavras cruzadas conhece o substantivo mó, dos mais usados nesse instrutivo passatempo.
É pedra de moinho, engenho para triturar cereais.
O moinho tradicional tem duas mós em forma de roda, uma sobre a outra. A maior por baixo, fixa. A menor, por cima, com um eixo no centro que lhe permite girar. A debaixo, côncava. A de cima, convexa. Ambas se justapõem.
O cereal é jogado por um orifício, entre as duas. Girando, a de cima esmaga o cereal. Surge a farinha, a escorrer pelas bordas.
Todo lar judeu tinha suas mós. Serviço diário, ao cuidado das mulheres. As casas abastadas usavam mós maiores. A tração era feita por burros.
Eram tão importantes que a Lei proibia usá-las como garantia para empréstimos.
Há, em Deuteronômio (24:6), poética orientação:
Não tomarás em penhor ambas as mós, nem mesmo a mó de cima, pois se penhoraria assim a vida.
Indulgente com as misérias humanas, Jesus era inflexível com aqueles que, ensinando a religião, sustentavam, secretamente, um comportamento imoral, capaz de chocar os catecúmenos.
Fiquemos tranqüilos. Trata-se de uma “palavrona”, não de um palavrão.
Também conhecida pelos cruzadistas, reporta-se aos iniciantes religiosos.
Jesus os chamava pequeninos.
Como se sentirá o catecúmeno ao tomar conhecimento dos desvios daqueles que o instruem na religião, comprometendo-se na imoralidade e na desonestidade?
Por fora, bela viola. Por dentro, pão bolorento.
Um comportamento assim pode ser desastroso, porquanto, em sua insipiência, os catecúmenos tendem a confundir a religião com o religioso.
Certa feita conversei com uma senhora, cujo marido compareceu algumas vezes ao Centro Espírita. Desistiu, horrorizado, ao ter conhecimento de que o presidente era velho conhecido, alguém de comportamento incompatível com sua posição. Cultivava aventuras extraconjugais.
Quantos catecúmenos esse dirigente terá afastado com seus maus exemplos?!
Jesus lembra as pedras de moinho para alertar quanto à responsabilidade dos que, fazendo-se depositários da religião, não vivem seus princípios.
Melhor seria que lhes atassem ao pescoço uma dessas mós maiores, puxadas por burros, e fossem lançados no mar.
A morte sempre é encarada com temor. Para muitos é o que de pior pode acontecer.
Daí a advertência:
Devemos ter menos medo de morrer do que de nos comprometer nesses desvios.
 Mestre prossegue:
– Ai do Mundo por causa dos escândalos; porque é inevitável que venham escândalos; mas ai do homem por quem o escândalo venha.
No sentido genérico, escândalo é a revelação de algo não compatível com a moral e os bons costumes.
Causa impacto junto à opinião pública, envolvendo várias situações:
• Governo corrupto.
• Funcionário desonesto.
• Político venal.
• Falso religioso.
• Adúltero contumaz.
Na atualidade, isso tudo aparece em larga escala, chocando as pessoas, principalmente em relação à corrupção.
Parece institucionalizada. Envolve todos os setores da sociedade.
– É o fim do mundo! Está tudo perdido! – dizem as pessoas, estarrecidas.
Trata-se de um equívoco.
Sempre existiu a corrupção.
A diferença é que no passado não havia liberdade de imprensa nem rigores na fiscalização.
Aparecia menos.
Quando troveja a verdade, desvelando o comportamento desonesto, a opinião pública é mobilizada, impondo mudanças.
O escândalo, portanto, embora chocante e desolador, funciona como um tumor lancetado.
Põe as impurezas para fora, favorecendo a cura do mal.
Não obstante útil e necessário ai daquele cujo comportamento lhe dá origem. Poderá até furtar-se às suas responsabilidades perante os homens, mas não escapará da Justiça Divina.
Na vida atual, na vida espiritual ou em vida futura, amargas retificações lhe serão impostas.
Sofrerá muito mais do que se lhe atassem uma mó ao pescoço e o atirassem ao mar.
Acentua Jesus:
– Portanto, se a tua mão ou o teu pé é objeto de escândalo, corta-o e lança o fora de ti; melhor é entrares na vida manco ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno.
– Se um dos teus olhos é objeto de escândalo, arranca-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida com um só dos teus olhos, do que, tendo dois, seres lançado no inferno de fogo.
Estas vigorosas imagens ressaltam a necessidade de contermos nossos impulsos inferiores, as nossas tendências viciosas, o que seja passível de prejudicar, influenciar negativamente ou chocar alguém.
Segundo a expressão evangélica, nossos comprometimentos morais nos precipitarão no fogo do inferno.
Naturalmente, é preciso definir o que isso representa, para não cairmos na fantasia medieval de uma fogueira onde as almas ardem em sofrimento perene, sem jamais se consumirem.
A própria teologia ortodoxa admite, hoje, que as chamas do inferno simbolizam os tormentos da consciência culpada, na Terra ou no Além.
Essas labaredas ardentes chamam-se angústia, insatisfação, tristeza, desequilíbrio, enfermidade, que nos perturbam hoje, em face de nossos desvios de ontem, na presente existência ou em existências anteriores.
Podemos situar as afirmativas de Jesus como uma hipérbole, termo também familiar aos cruzadistas.
Trata-se de enfatizar uma realidade, exagerando-a.
• Desejo de comer o fígado de alguém – grande raiva.
• Derramar rios de lágrimas – grande tristeza.
• Coração de pedra – grande insensibilidade.
• Furor de um tigre – grande agressividade.
• Vulcão na cabeça – grande tensão.
A hipérbole de Jesus dramatiza a situação do indivíduo tão comprometido com o mal que necessita de recurso mais enérgico, a fim de redimir-se.
O entrar na vida equivale ao nascer de novo, do diálogo com Nicodemos, em que Jesus situa a reencarnação como indispensável à nossa evolução.
O Espírito poderá reencarnar com limitações físicas e mentais que inibem suas tendências inferiores e impõem o resgate de seus débitos, a fim de que se liberte do inferno da consciência culpada.
É bom esclarecer, leitor amigo:
Não pretendo que essas limitações, que todos temos em maior ou menor intensidade, definam nosso grau de comprometimento diante das leis divinas.
Evitemos a equivocada idéia de que quanto maior a deficiência, maior o saldo devedor, no balanço evolutivo.
Todos temos débitos do pretérito que justificam quaisquer limitações. Não obstante, estas se manifestam em maior ou menor intensidade, segundo programas instituídos por Deus, guardando compatibilidade com nossas necessidades e nossa capacidade de enfrentar desafios.
Estaremos sujeitos a elas enquanto vivermos na Terra, até que nos libertemos em definitivo de nossas mazelas, habilitando-nos a viver em planos mais altos do infinito, em regiões alcandoradas, usando corpos celestes, segundo a expressão do apóstolo Paulo. Então nos isentaremos das deficiências, limitações e desgastes que caracterizam o veículo de matéria densa que usamos no trânsito pela carne.
Difícil definir quanto tempo semelhante realização demandará, quantas vezes nos submeteremos a pesadas mós que triturem nossas mazelas.
Mas algo podemos afirmar, sem sombra de dúvida:
Tanto mais breve será, quanto maior o nosso empenho em não nos envolvermos num comportamento capaz de produzir escândalos, o barulho da verdade a desmascarar a hipocrisia humana.

Richard Simonetti
Reformador Mar/2001

JUDAS DE KERIOTH E JEHANNE D’ARC




A lei da reencarnação é um claro e insofismável ensinamento que encontramos no Evangelho de Jesus, no capítulo XVI:13 a 20, de Mateus ("Quem diz o povo ser o filho do homem?"); em João, III:1 a 12 (colóquio com Nicodemos), e IX:1 a 7 (cura de um cego de nascença).
Segundo Anatole France, a Universidade de Paris, então corporação eclesiástica, foi a principal responsável pela prisão e condenação de Joana d’Arc. Foi vendida pelo conde de Luxemburgo, por proposta da universidade, aos ingleses que a odiavam, por 10.000 libras, além de uma pensão vitalícia ao soldado que a prendera.
Pedro Cauchon, bispo de Beauvais e aliado dos ingleses, dirigiu o processo de Rouen, constituído o tribunal de padres católicos, que não permitiram nenhuma defesa.
Léon Denis afirma que Joana d’Arc declarava ouvir de suas vozes: "Tem coragem! Serás libertada por uma grande vitória"; e também: "Sofrer é engrandecer-se, é elevar-se."
Foi queimada viva em praça pública de Rouen, em 30 de maio de 1431. Quando as labaredas começaram a atingi-la, bradou em estado de êxtase: "E as minhas vozes não me enganaram, estou sendo libertada por uma "grande vitória". Vislumbrava uma bela cena espiritual em que via Jesus vindo pessoalmente ao seu encontro, acompanhado dos onze apóstolos e grande número de espíritos de luz, que a felicitaram, embora ela no momento ainda ignorasse que tivesse sido a reencarnação de Judas de Kerioth. Aliás, Judas era oleiro e natural de Kerioth, povoado situado a 35 quilômetros ao sul de Jerusalém. Era o único judeu entre os doze apóstolos.
A igreja católica, após muitos anos, por pressão do povo francês, sob o comando de Calixto III, mandou rever o processo, em 1455, reabilitando Joana d’Arc. Mais tarde, em abril de 1909, beatificou-a, canonizando-a, finalmente, em 16 de maio de 1920. O bispo Pedro Cauchon foi excomungado "post-mortem".
No 3º volume de Os Quatro Evangelhos, de J.-B. Roustaing, p. 207, 7ª edição, temos as palavras probantes de Jesus de que o apóstolo Judas viria a estar em situação idêntica à dos outros (Mateus, XIX: 28): 
"Em verdade vos digo que vós que Me seguistes, quando vier o Filho do Homem, ao tempo da regeneração, estiver assentado no trono da sua glória, também estareis assentados em doze tronos a julgar as doze tribos de Israel.
"Estas palavras, cujo sentido ora conheceis, despojando o espírito da letra, Jesus as dirigiu: tanto aos onze apóstolos que se conservariam fiéis, como a Judas Iscariote que, sabia-o ele de antemão, viria a traí-lo, falindo gravissimamente à sua missão. Provam elas, portanto, que, nos séculos futuros, ao tempo da regeneração, Judas estará em situação igual à dos outros onze, provando, conseguintemente, que vias e meios de purificação e de progresso moral e intelectual lhe estavam reservados e lhe seriam proporcionados, com o auxílio do tempo, como a todos os Espíritos culpados, consistindo na expiação e na reencarnação que, conforme já dissemos, constituem o inferno, o purgatório, a reparação e o progresso.
"Aquelas palavras proclamaram previamente a falsidade do dogma humano, ímpio e monstruoso, da eternidade das penas para o Espírito culpado; desse inferno eterno que, segundo a Igreja romana, tragou para toda a eternidade a Judas Iscariote, que essa mesma Igreja considera o maior dos réprobos, condenado eternamente ao inferno eterno que ela instituiu."
Dentro da lei de Justiça, Amor e Caridade, Joana d’Arc foi a última reencarnação expiatória de Judas de Kerioth.
No livro Joana d’Arc Médium, Léon Denis assim descreve:
"Ela então se dirige a Isambard de la Pierre e diz: Eu vos peço, ide buscar-me a cruz da igreja mais próxima; quero tê-la erguida bem defronte de meus olhos, até o último instante. Quando lhe apresentaram a cruz, cobre-a de beijos e de pranto. No momento em que vai morrer de uma morte horrível, abandonada por todos, quer ter diante de si a imagem desse outro supliciado que, nos confins do Oriente, no cume de um monte, deu a vida em holocausto à verdade.
"Os carrascos põem fogo à lenha e turbilhões de fumaça se enovelam no ar. A chama cresce, corre, serpeia por entre as pilhas de madeira. O Bispo de Beauvais acerca-se da fogueira e grita-lhe: Abjura! Ao que Joana, já envolvida num círculo de fogo, responde: "Bispo, morro por vossa causa, apelo do vosso julgamento para Deus!" 
"Alguns minutos depois, em voz estridente, lança à multidão silenciosa, aterrorizada, estas retumbantes palavras: "Sim, minhas vozes vinham do Alto. Minhas vozes não me enganaram. Minhas revelações eram de Deus." Ecoa um grito sufocado, supremo apelo da mártir de Rouen ao Mártir do Gólgota: "Jesus".
Examinando a obra literária Crônicas de Além-Túmulo, psicografada por Francisco Cândido Xavier, em bela passagem de uma entrevista do espírito Humberto de Campos com Judas Iscariote, este, ao ser questionado por aquele se "chegou a salvar-se pelo arrependimento", responde: 
- "Não. Não consegui. O remorso é uma força preliminar para os trabalhos reparadores. Depois de minha morte trágica, submergi-me em séculos de sofrimentos expiatórios da minha falta. Sofri horrores nas perseguições infligidas em Roma aos adeptos da doutrina de Jesus e as minha provas culminaram em uma fogueira inquisitorial onde, imitando o Mestre, fui traído, vendido e usurpado. Vítima da felonia e da traição, deixei na Terra os derradeiros resquícios de meu crime, na Europa do século XV. Desde esse dia, em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentido na fronte o ósculo do perdão da minha própria consciência."
Conforme se vê, Judas de Kerioth ou Joana d’Arc é de há muito, no plano espiritual, um espírito liberto, dotado de imensa humildade, comprovando que as vidas sucessivas no processo evolutivo nos dão a oportunidade de retornar ao caminho, conhecer a verdade religiosa para a vida em plenitude que o Mestre Jesus traçou (O Livro dos Espíritos, q. 625).

(Transcrito de O Franciscano, editado pela Associação
Espírita Francisco de Assis, Rio de Janeiro, RJ,
no período de 1996 a 1998, revisto pelo autor

sexta-feira, 25 de maio de 2012

BEZERRA DE MENEZES NOS ADVERTE SOBRE ADENDAS PERNICIOSAS NO MEIO ESPIRITA




O Espiritismo traz-nos uma nova ordem religiosa que precisa ser preservada. Nela o Cristo desponta como excelso e generoso condutor de corações e o Evangelho brilha como o Sol na sua grandeza mágica. Doutrina que cresceu demasiadamente nos últimos lustros, em suas hostes surgiram bons líderes ao tempo que também apareceram imprudentes inovadores com a presunção de “atualizar” Kardec.
A Terceira Revelação é a resposta sábia dos Céus às interrogações da criatura aflita na Terra, conduzindo-a ao encontro de Deus.
Cremos que preservá-la da presunção dos reformadores e das propostas ligeiras dos que o ignoram e apenas fazem parte dos grupos onde é apresentado, constitui dever de todos nós.
Bezerra de Menezes tem demonstrado preocupação com a manutenção da singeleza dos postulados espíritas, senão, vejamos: “Neste momento, contabilizamos glórias da Ciência, da Tecnologia, do pensamento, da arte, da beleza, mas não podemos ignorar as devastadoras estatísticas da perversidade que se deriva dos transtornos comportamentais” (...).
(...) “as criaturas humanas ainda não encontraram o ponto de realização plenificadora. Isto porque Jesus tem sido motivo de excogitações imediatistas no campeonato das projeções pessoais, na religião, na política e nos interesses mesquinhos.” (1)
Se abraçamos o Espiritismo, por ideal cristão, não podemos negar-lhe fidelidade. O legado da tolerância não se consubstancia na omissão da advertência verbal diante das enxertias conceituais e práticas anômalas que alguns companheiros intentam impor no seio do Movimento Espírita.
Para os mais afoitos, a pureza doutrinária é a defesa intransigente dos postulados espíritas, sem maior observância das normas evangélicas; para outros, não menos afobados, é a rígida igualdade de tipos de comportamentos sem a devida consideração aos níveis diferenciados de evolução em que estagiam as pessoas.
Sabemos que o excesso de rigor na defesa doutrinária pode levar a graves erros, se enveredarmos pelas trilhas de extremismos injustificáveis, posto que redundarão em divisão inaceitável, em face dos impositivos da fraternidade. É óbvio que não podemos converter defesa da pureza Kardequiana em cristalizada padronização de práticas que podem obstar a criatividade espontânea diante da liberdade de ação.
Não obstante repelir as atitudes extremas, não podemos abrir mão da vigilância exigida pela pureza dos postulados espíritas e não hesitemos, quando a situação se impuser, em nos alertar sobre a fidelidade que devemos a Kardec e a Jesus.
É importante não esquecermos que nas pequeninas concessões vamos descaracterizando o projeto da Terceira Revelação.
“É NECESSÁRIO PRESERVAR O ESPIRITISMO CONFORME HERDAMOS DO EMINENTE CODIFICADOR, MANTENDO-LHE A CLARIDADE DOS POSTULADOS, A LIMPIDEZ DOS SEUS CONTEUDOS, NÃO PERMITINDO QUE SE LHE INSTALE ADENDA PERNICIOSA, QUE SOMENTE IRÁ CONFUNDIR OS INCAUTOS E OS MENOS ESCLARECEDORES DAS SUAS DIRETRIZES” (2) É inegável que existem inúmeras práticas não compatíveis com o projeto doutrinário que urge sejam combatidas à exaustão, nas bases da dignidade cristã, sem quaisquer laivos de fanatismo, tendente a impossibilitar discussão sadia em torno de questões controversas.
Apresentando certa apreensão quanto ao Movimento Espírita, nosso Benfeitor recorda: “A Boa Nova (...) produz júbilo interno e não algazarra exterior. (...) não é lícito que nos transformemos em pessoas insensatas no trato com as questões espirituais. Preservar, portanto, a pulcritude e a seriedade da Doutrina no Movimento Espírita é dever que nos compete a todos e particularmente ao Conselho Federativo Nacional através das Entidades Federadas.” (3)
(Destacamos.)Sobre os que ainda se fixam demasiadamente nas questões fenomênicas, Bezerra lembra: “(...) a mediunidade deve ser exercida santamente, cristãmente, com responsabilidade e critérios de elevação para não se transformar em instrumento de perturbação e desídia.” (4)
O exercício da mediunidade deve ser reservado às pessoas que conheçam Espiritismo, pelo fato de ser extremamente perigosa a participação de pessoas despreparadas em trabalhos mediúnicos. E por desatenção desse tópico, após mais de um século de mediunidade à luz da Doutrina Espírita, temo-la ainda atualmente ridicularizada pelos intelectuais, materialistas e ateístas, que insistem em desprezá-la até hoje.
Em nome do Espiritismo, há aqueles que propõem práticas alternativas, que nada têm a ver com a terapêutica espírita. Em recente entrevista ao jornal Alavanca – abril/maio-2000 – Divaldo Franco adverte sobre as “terapias alternativas – ‘curanderismos’ e a fascinação na prática mediúnica, apontando-os como fatores que têm desestabilizado o projeto da unidade doutrinária”. (5)
É por essas e outras que a revista Veja (6) registra que os médicos da ala conservadora da Psiquiatria consideram os médiuns como dotados de neuroses, psicoses, desvios de personalidade, esquizofrenias.
Muitos adeptos do Espiritismo desconhecem Allan Kardec, Emmanuel, André Luiz, Joanna de Ângelis, Bezerra de Menezes e outros consagrados expoentes da difusão doutrinária e lastimavelmente estão aguilhoados nas práticas que comprometem todo projeto doutrinário.
“Mantende o espírito de paz, preservando os objetivos abraçados e, caso seja necessário selar vosso compromisso com testemunho, não titubeeis.” (7) O exercício dos códigos evangélicos impõe-nos a obrigatória fraternidade e compreensão para com os adeptos dessas práticas, o que não quer dizer que devamos omitir-nos quanto à oportuna advertência para que a Casa Espírita não se transforme em academia de ilusões.

Reformador Junho 2004

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1Bezerra de Menezes. (Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, em 9 de novembro de 2003, no encerramento da Reunião do Conselho Federativo Nacional, na sede da Federação Espírita Brasileira, em Brasília. Publicada com o título “Brilhe a vossa luz”, em Reformador/dezembro/2003, p. 8 (446) e 9 (447).
2Idem, ibidem.
3 Idem, ibidem.
4Idem, ibidem.
5Jornal Alavanca – abril/maio-2000.
6Revista Veja. SP, abril -1999.
7Cf. Bezerra de Menezes. Mensagem psicofônica
In: Reformador/dezembro/2003.

JESUS SALVA!...




Li há dias, escrita no pára-brisa traseiro de um automóvel, esta frase: “Vivo despreocupado, porque tudo de que preciso, Jesus dará...”
Em outras oportunidades, tenho visto pregadores recomendando: – Irmãos entreguem seus problemas a Jesus que ele os resolverá. Outros há que estimam repetir esta frase do Salmo 23 de Davi: “O Senhor é o meu pastor: nada me faltará.”
O sentido emprestado a essas afirmativas, entretanto, deixa perceber a preocupação com o imediatismo das soluções aneladas, como se o Cristo fosse nosso servo para solução dos problemas que estão a reclamar nossa ação diligente. Não que o Mestre com sua superioridade espiritual, não pudesse resolver tais problemas, ou não fosse humilde o bastante para fazê-lo, pois dessa humildade deu Ele exemplo claro, ao lavar os pés dos apóstolos. A realidade, porém, é que os homens, escravizados ao menor esforço, acham mais cômodo transferir ao Divino Mestre as tarefas de resolver seus problemas.
Das palavras do Cristo, há que tirar o espírito da letra. Quando ele diz: “Vinde a mim vós que estais fatigados, e eu vos aliviarei”, ou “Vinde a mim todos vós que sofreis”, ou ainda “Bem-aventurados os aflitos pois que serão consolados”, não se está transformando em nosso servidor! A salvação e a consolação que o Cristo nos oferece estão nas verdades dos seus ensinamentos, que precisam ser conhecidos, compreendidos, e praticados.
Ora, Jesus não mais está na Terra, logo, o “vinde a mim” significa: buscai os meus ensinamentos! Ele está representado entre os homens pelos conceitos que deixou por intermédio do seu Evangelho. Se assim não fosse, por que afirmaria: “A cada um, conforme suas obras?” Esta máxima está a nos indicar que cada qual receberá o quinhão de ventura e paz proporcional aos esforços que faça pela própria libertação da inferioridade espiritual em que se demore.
Será sempre uma postura ingênua acharmos que teremos os problemas que nos afligem solucionados, sem que o mereçamos. Recomenda-nos, a propósito, o Espírito de Verdade, através das páginas de O Evangelho segundo o Espiritismo, como conduta indispensável à consecução daquele objetivo: Devotamento e abnegação! (Cap. VI, item 8.)
Por isso, não bastará balbuciarmos uma prece, ou expedirmos uma rogativa suplicando socorro espiritual, se elas não estiverem respaldadas pela vontade firme de corrigirmos fraquezas e imperfeições que ainda marcam o nosso Espírito, ou se ainda mantemos nosso coração atrelado às idéias infelizes da vingança, conservando a mente escravizada aos vícios e paixões da natureza física.
É ainda o Espírito de Verdade quem nos recomenda com máximas indispensáveis:
 “Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.”
Tais são os caminhos da paz e da luz, e quem se orienta por eles, em verdade, já está em permanente oração, pelas elevadas vibrações que irradia, fazendo jus à assistência espiritual das elevadas mentes da Espiritualidade Superior, às quais incumbe a orientação do progresso das criaturas.

MAURO PAIVA FONSECA
Reformador Jul2002

Entrevista com Arnaldo Rocha e mensagem psicofônica do Espírito de Chico...

Ancient Aliens [S03E16] (Legendado) Aliens and The Creation of Man

Ciência do Espírito: INÍCIO DO ESPIRITISMO NO BRASIL

Ciência do Espírito: INÍCIO DO ESPIRITISMO NO BRASIL: Muitos Espíritas, simpatizantes ou mesmo trabalhadores ativos na Doutrina, desconhecem as bases que deram inicio às atividades do Espirit...

quarta-feira, 23 de maio de 2012

JUSTIÇA DA REENCARNAÇÃO



LIVRO DOS ESPÍRITOS
171. Em que se funda o dogma da reencarnação?
“Na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se? Não são filhos de Deus todos os homens? Só entre os egoístas se encontram a iniqüidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão.”
COMENTÁRIOS DE A.K.: Todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua justiça, porém, lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova.
Não obraria Deus com eqüidade, nem de acordo com a Sua bondade, se condenasse para sempre os que talvez hajam encontrado, oriundos do próprio meio onde foram colocados e alheios à vontade que os animava, obstáculos ao seu melhoramento. Se a sorte do homem se fixasse irrevogavelmente depois da morte, não seria uma única a balança em que Deus pesa as ações de todas as criaturas e não haveria imparcialidade no tratamento que a todas dispensa.
A doutrina da reencarnação, isto é, a que consiste em admitir para o Espírito muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à idéia que formamos da justiça de Deus para com os homens que se acham em condição moral inferior; a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos os nossos erros por novas provações. A razão no-la indica e os Espíritos a ensinam.
O homem, que tem consciência da sua inferioridade, haure consoladora esperança na doutrina da reencarnação. Se crê na justiça de Deus, não pode contar que venha a achar-se, para sempre, em pé de igualdade com os que mais fizeram do que ele. Sustém-no, porém, e lhe reanima a coragem a idéia de que aquela inferioridade não o deserda eternamente do supremo bem e que, mediante novos esforços, dado lhe será conquistá-lo. Quem é que, ao cabo da sua carreira, não deplora haver tão tarde ganho uma experiência de que já não mais pode tirar proveito? Entretanto, essa experiência tardia não fica perdida; o Espírito a utilizará em nova existência.
COMENTÁRIOS DE MIRAMEZ
REENCARNAÇÃO: LEI UNIVERSAL
A reencarnação é lei universal vigente em todos os mundos habitados, e como tal, é imutável. O Espírito anima quantos corpos precisar para o seu despertamento espiritual. A reencarnação mostra-nos a justiça de Deus, proporcionando a todos as mesmas oportunidades de viverem bem, de usarem seus poderes e de gozarem seus esforços, suas conquistas.
O descrédito de alguns em relação a essa lei não altera a sua vigência, visto que uma lei eterna, fundamentada por Deus, não vai deixar de ser lei porque um punhado de Espíritos nela não acredita. Quem não crê na luz não afeta a existência dela, e continuará a ser por ela beneficiado. Por alguém não acreditar que a água sacia a sede e é um benefício para a vida, a água não vai deixar de existir para ele; ela corre o seu percurso, sempre fazendo o bem que Deus determinou. Assim por diante, são inumeráveis os fatos que existem, independentes da aprovação dos homens. O Cristo sempre foi, é, e será nosso guia espiritual, mesmo que não creiamos na Sua presença em nossas vidas. Deus é muito mais real na existência de todas as criaturas, e muitas delas O negam. Isso tudo são fases na vida dos Espíritos e o tempo mostrar-lhes-á a realidade, por processos que eles mesmos desconhecem.
A reencarnação sempre existiu, desde o princípio da criação dos mundos, como veredas que se abrem para o despertamento dos Espíritos e, se perguntarmos o porquê da reencarnação, temos muito o que ouvir. O próprio silêncio nos faz meditar sobre o assunto, e as vidas sucessivas, pelas quais todos devem passar, e já passaram por muitas, conscientizarão o homem da realidade, fazendo, no silêncio da vida, lembranças correspondentes e raciocínios claros sobre a necessidade das vidas múltiplas.
Convém meditar neste assunto transcendental, estudar e conversar sobre ele com pessoas abalizadas no assunto, e dele deduzir o que a nossa evolução comportar. Não deves negar nada que não conheças bastante, para não caíres no ridículo da inexperiência. Não percas tempo discutindo outra filosofia que não seja a tua; examina e tira dela o que achares mais conveniente para o teu bem-estar. A pessoa que se acostuma a negar o que não conhece, empobrece seus próprios valores e passa mesmo em vida, a viver morto.
Se já estás cansado de ler livros dos homens e desconfias deles, estuda no livro da natureza, buscando a participação de quem a conhece, para te ensinar as primeiras letras dessa verdade universal. As primeiras lições das vidas sucessivas nos dizem que tudo muda na vida, de dia para dia. O progresso é um fato em todos os ângulos. Se encarnarmos, por que não podemos voltar à carne? Se o corpo existe, por que não existe o Espírito? Hoje, a ciência, na sua dinâmica de especular, já prova que as coisas invisíveis são mais reais do que as que apalpamos e vemos. O que deduzirmos disso?

terça-feira, 22 de maio de 2012

DILÚVIO: CATÁSTROFE PARCIAL ADAPTADA A UMA ANTIGA LENDA



A lenda do dilúvio, que encontramos em Gênesis: VII e VIII são uma dessas passagens bíblicas que só podem ser tomadas ao pé da letra pelo FANATISMO e a IGNORÂNCIA. Pouco importa que durante séculos as religiões cristãs, com seus doutores e sacerdotes, tenham sustentado a realidade literal dessa lenda. A verdade histórica é apenas esta: a lenda do dilúvio corresponde a um dos arquétipos mentais atualmente estudados pela psicologia profunda. Os estudos de Karl Jung a respeito são bastante esclarecedores. Mas o arquétipo coletivo, que corresponde no plano social aos complexos psicanalíticos do plano individual, não é uma abstração.
Pelo contrário, é uma realidade psíquica enraizada nos fatos concretos. O dilúvio bíblico, por isso mesmo, tem duas faces: uma é a realidade histórica, a ocorrência real da catástrofe; outra é a interpretação alegórica, enraizada no arquétipo coletivo e que o texto sagrado nos oferece.
O Livro dos Espíritos explica o problema do dilúvio através dessas duas faces, a real e a lendária. É o que vemos nos seu item 59, nas "Considerações e Concordâncias Bíblicas referentes à Criação", que se podem resumir nestas palavras: "O dilúvio de Noé foi uma catástrofe parcial, que se tomou pelo cataclismo geológico". Aliás, essa afirmação de Kardec foi posteriormente confirmada pelas investigações científicas. O arqueólogo inglês sir Charles Leonardo Woolley descobriu ao norte de Basora, próximo ao Golfo Pérsico, ao dirigir escavações para a descoberta dos restos da cidade de Ur, as camadas de lama do dilúvio mencionado na Bíblia.
Pesquisas posteriores completaram a descoberta. O dilúvio parcial do delta dos rios Tigre e Eufrates é hoje uma realidade atestada pela Ciência. Foi esse dilúvio, ou seja, essa inundação parcial, que serviu de motivo histórico para a lenda bíblica.
Como acentua Kardec, nada perdeu com isso a Bíblia, nem a Religião. Mas ambas são diminuídas quando o fanatismo insiste em defender um absurdo, quando teima em dizer que Deus afogou o mundo nas águas de uma chuva de quarenta dias e fez Noé salvar-se, com a própria família e as privilegiadas famílias dos animais de cada espécie existente, para que a vida pudesse continuar na Terra. Sustentar como realidade histórica a figuração ingênua de uma lenda, conferindo-lhe ainda autoridade divina, é ridicularizar o sentimento religioso e minar as bases da concepção espiritual do mundo. Foi esse processo infeliz de ridicularização que levou o nosso tempo ao materialismo e à descrença que hoje o dominam.
 Que diriam os fanáticos da "palavra de Deus" ao saberem que o dilúvio bíblico tem por antecessores o dilúvio babilônico de Gilgamesch, historicamente chamado de "o Noé babilônico", e o dilúvio grego de Deucalião? O Espiritismo esclarece esse problema, mostrando que o "arquétipo coletivo" de dilúvio é responsável pelo seu aparecimento em diversos capítulos da História das Religiões, e até mesmo na pré-história, entre os povos selvagens. É esse um dos pontos mais curiosos da psicologia das Religiões.

J. Herculano Pires
Visão Espírita da bíblia

terça-feira, 15 de maio de 2012

DOIS MILHÕES DE ESPÍRITOS FRANCESES REENCARNARAM NO BRASIL


- Divaldo, Deus te abençoe. É tão difícil entender que no Brasil, sendo a “Pátria do Evangelho”, ainda existam tantas pessoas que não amam o próximo. Por quê?
- Porque não são Espíritos do Brasil. Vêm de outras pátrias, de outras raças. Não são almas brasileiras. Vêm para cá, porque, se ficassem nos seus países de origem, os sentimentos de rancor e ressentimentos torná-los-iam mais desventurados.
Após a Revolução Francesa de 1789, quando a França se libertou da Casa dos Bourbons, os grandes filósofos da libertação sonharam com os direitos do homem, direitos que foram inscritos nos códigos de justiça em 1791 e que, até hoje, ainda não são respeitados, embora em 1947, no mês de dezembro, a ONU voltasse a reconhecê-los. Depois daquele movimento libertário, o que aconteceu com os franceses? Os dois partidos engalfinharam-se nas paixões sórdidas e políticas e como consequência, os grandes filósofos cederam lugar aos grandes fanáticos, e a França experimentou os dias de terror, quando a guilhotina, arma criada por José Guilhotin, chegava a matar mais de mil pessoas por dia. Esses Espíritos saíam desesperados do corpo e ficavam na psicosfera da França buscando vingança.
Começa o século XIX e é programada a chegada de Allan Kardec. O grande missionário vai reencarnar na França, porque a mensagem de que é portador deverá enfrentar o cepticismo das Academias na Cidade-Luz da Europa e do mundo e, naquele momento, Cristo havia designado que o Espiritismo nasceria na França, mas seria transplantado para um país onde não houvesse carmas coletivos, e esse país, por enquanto, seria o Brasil.
São Luis, o guia espiritual da França, cedeu que a terra gaulesa recebesse Allan Kardec, mas “negociou” com Ismael, o guia espiritual do Brasil: “Já que a mensagem de libertação vai ser levada para a Terra do Cruzeiro, a França pede que muitos Espíritos atribulados da Revolução reencarnem no Brasil, pois, se reencarnarem aqui impedirão o processo da paz”. E dois milhões de franceses vieram reencarnar no Brasil, para que, quando chegasse a mensagem espírita, culturalmente se identificassem com o chamado método cartesiano de Allan Kardec. (sem grifos).
Naturalmente, esses Espíritos eram atribulados, perturbados, com ressentimentos, com mágoas. Se nós considerarmos que os Espíritos brasileiros são os índios, que a maioria de nós é constituída por Espíritos comprometidos na Eurásia, e que estamos aqui de passagem, longe dos fenômenos cármicos para nos depurarmos, compreenderemos porque muitos brasileiros do momento ainda não amam esta grande nação. E o primeiro sentimento que têm quando, ao invés de investir em fortunas, honesta ou desonestamente amealhadas no solo brasileiro, eles as mandam para os países estrangeiros. Não confiam no Brasil, porque são “de lá”. Mandam para lá porque, morrendo aqui, o dinheiro fica lá para poderem “pagar” o carma negativo que lá deixaram. Os chamados “paraísos fiscais” são também lugares de alguns de nós que aqui nos encontramos, mas apesar de ainda não termos o sentimento do amor, já temos alguma luz.
Viajando pelo mundo, onde tenho encontrado brasileiros espíritas, descubro uma célula espírita. Começa-se com um estudo do Evangelho no lar, depois chama-se os amigos, os vizinhos, forma-se um grupo e, hoje, na Europa. 90% dos grupos espíritas são criados por brasileiros. Com exceção de Portugal. Espanha e um pouquinho da França, o movimento é todo de brasileiros e latinos acendendo as labaredas do Evangelho de Jesus. Não há pouco tempo, brasileiros na Holanda encontraram as obras de Kardec traduzidas para o holandês, brasileiros na Suíça revisaram O Evangelho segundo o Espiritismo e se está tentando publicar as obras de Kardec, agora em alemão. Brasileiros na América do Norte retraduziram O Livro dos Espíritos e O Evangelho, que o foi por um protestante, que substituiu a palavra reencarnação por ressurreição. Brasileiros em Londres, com alguns ingleses, já formam oito grupos espíritas e seria fastidioso se fosse enumerando na Ásia, na África...
Certa feita recebi um telefonema de uma cidade asiática. Tratava-se de uma consulesa do Brasil que me dizia o seguinte: “Eu estou no outro lado do mundo, sou espírita, tenho três filhos rapazes – um de 10, um de 14 e outro de 18 anos. Tenho-lhes ensinado o Espiritismo, mas o meu filho mais velho está na Universidade e me faz perguntas muito embaraçosas; aqui eu não tenho acesso a maiores instruções. Queria convidá-lo a vir aqui dar umas aulas de Espiritismo ao meu filho. Você viria?” Eu respondi-lhe: - Sim, senhora, com a condição de conseguir-se espaço para eu falar em auditório publico sobre o Espiritismo: - O marido era o representante dos negócios do Brasil no país. – Se a senhora aceitar a condição, ficaria alguns dias para debater com os seus meninos. Como não falo inglês, seu filho será o meu intérprete.
E assim, fiz a longa viagem de 36 horas com escalas e lá, naturalmente, ela me disse: “Mas, Divaldo, onde vamos ter esse encontro?” Eu lhe respondi: “Tive uma entrevista com o Baghavan Swami Sai Baba, e sei que essa é uma cidade em que há um grande movimento Babista e, se a senhora conseguir um grupo Sai Baba eu me prontifico a fazer uma conferência ali”.
Encontramos o representante de Sai Baba para a Ásia e ele ficou muito feliz porque Swami havia-me recebido. Ele reuniu mil pessoas para que eu falasse sobre o Espiritismo. Fiquei até com pena dele! E pensei: “Vou arrastar toda a turma de Sai Baba para o Sr. Allan Kardec” (risos...).
Então, fiz a palestra, falei sobre Allan Kardec, sobre as comunicações, ele ficou tão sensibilizado, que me perguntou se eu teria coragem de ir a Cingapura para fazer a mesma coisa. Eu lhe respondi: - O senhor me mandando até o CingaInferno eu irei para falar sobre o Espiritismo. Fui a Cingapura e fiz uma viagem pela Ásia e, onde havia brasileiros, lá estavam eles...
A missão do Brasil, “Pátria do Evangelho e Coração do Mundo” não é a de sermos todos ricos, maravilhosamente ricos; é a de sermos maravilhosamente espiritualizados, sem nenhum demérito para os outros países, que são todos amados por Deus e por Jesus em igualdade de condição. Aqui entra o nacionalismo, para ver se a gente ama um pouquinho mais este país que está passando uma fase de grande desprestígio. Deus só tem ajudado no Tênis! Que Ele tenha compaixão de nós e nos ajude também no Futebol e noutra coisa qualquer! (risos...).
Nós somos as cartas vivas do Evangelho. Jesus escreveu em nossa alma a Sua mensagem. Onde quer que vamos, que brilhe a nossa luz; mas, para que ela brilhe, é necessário que a acendamos, e o combustível dessa luz é a fraternidade. Assim, todos saberão que estamos ligados a Ele, graças à presença dos bons Espíritos, que aqui estão conosco, e sempre se encontram a qualquer hora. Como disse Kardec, com muita propriedade, todos têm seu Guia espiritual que os inspira; dessa forma, todos são médiuns, estão sintonizados com esses.
Concluirei com uma pequena narrativa, sobre um homem que era muito ignorante, muito modesto, muito pobre. Todo dia ele entrava na igreja, próximo ao horário de fechar as portas; ajoelhava-se diante do altar-mor, ficava dois minutos e saía. O sacerdote, que cuidava da igreja, ficou muito intrigado, e achou que ele estava observando algo para furtar ou para roubar, passando a ficar mais vigilante. Mas, ele chegava, ajoelhava-se, dobrava-se, balbuciava algo e ia-se embora. Um dia, o sacerdote não suportou mais e perguntou: “O que é que você vem fazer aqui, um miserável como é? Por que não vem à missa? Só vem na hora em que a igreja vai ser fechada?” Ele respondeu: “É porque eu sou muito pobre.” O sacerdote continuou: - “E por que vai ao altar-mor. Como se atreve?” Ele respondeu: - “Pois é, quando a igreja vai fechar, eu entro correndo e digo: Jesus, eu estou aqui. Se precisar é só chamar! E vou embora”. O sacerdote achou aquilo intrigante.
Anos depois, aquele mendigo adoeceu e foi levado para uma casa de emergência, de caridade. Quando, um dia, a enfermeira foi colocar o seu alimento sobre uma cadeira, ao lado da cama, ele pediu: - “Oh, por favor, não bote aí!” A jovem perguntou: - “Por que não?” E o homem respondeu: - “Porque essa cadeira de vez em quando, fica ocupada.” Ele deveria estar delirando, a enfermeira pensou, e respeitou-o. Começou a notar que todo dia, um pouco antes das 18 horas, o rosto dele se iluminava! Ele sorria e dizia: - “Muito obrigado! Muito obrigado!” Ela achava que era delírio, mas, como ele era perfeitamente saudável da mente, num desses dias, quando terminou de agradecer, ela indagou: - “Não repare, mas o que você está agradecendo?” Ele esclareceu: - “É a uma visita que chega todo dia cinco para as seis.” Ela continuou: - “Que visita é essa?” - É Jesus. Ele sempre vem e diz-me: - “Olhe, estou aqui. Se precisar de mim é só chamar!...”.
Se precisarmos de Jesus, é só chamarmos! (XIF-2001)
Texto Extraído do livro: APRENDENDO COM DIVALDO. Entrevistas / Divaldo Pereira Franco