segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Como interpretar: O acaso não existe.




Eu ouço muitas vezes a expressão "o acaso não existe", nos meios espíritas, incluindo este fórum.

Na minha perspectiva, uma vez que os espíritas acreditam que Deus é a causa primeira de todas as coisas, portanto das leis da natureza, eliminam de imediato a possibilidade de acaso. Na verdade, o livre-arbitrio do homem está limitado pelas leis da natureza, e nenhuma decisão que este tome podem violar essas leis, permanentes e universais.
Não há acaso porque o universo é organizado, não é um caos. 

A superstição convida-nos a tentar "convencer" Deus a violar as leis da natureza, a nosso favor, mas o principio da imparcialidade de Deus, diz-nos que isso não é possível. Para Deus todos somos igualmente importantes. Qualquer favor seria uma preferência.

A acção de Deus nós não conhecemos, porque não o podemos compreender, uma vez que não temos capacidade para isso, face ao nosso limitado grau de evolução intelectual, limitação essa ainda aumentada pelo facto de estarmos na carne. Mas sabemos que Deus não elimina o sofrimento físico da Terra, porque se Ele é todo poderoso e imparcial, não havia sofrimento físico na Terra.

Se existem curas espirituais, elas estão previstas nas leis da natureza, e não são excepções à mesma. Pessoalmente tenho sempre grandes dúvidas sobre a credibilidade das curas, pois é uma área que gera muito interesse nas pessoas e que muito facilmente se pode transformar em grande negócio.

Os grandes negócios trazem sempre a tentação da fraude, por parte do curador ou dos que o envolvem. Logo deixo as provas das curas para a ciência. Como espirita, não digo que é possível nem que não é impossível, mas explico sempre a quem me questiona que é uma área pelas quais não ponho as minhas mãos no fogo, de forma nenhuma, porque tudo pode acontecer. E só por as pessoas se dizerem espíritas, nada nos diz que se comportam como tal, ou seja, de forma honesta. 

Os bons espíritos, servidores de Deus, segundo a codificação, de  Allan Kardec, também não nos isentam de sofrimentos físicos. Os esforços deles são no sentido de nos estimular a coragem, a paciência e a resignação. 

Mas nos meios espíritas, muita gente entende que a dureza da vida no planeta Terra, a todos os níveis, e as interferências nocivas dos maus espíritos não chegam. É preciso que os bons espíritos, ao serviço de Deus, garantam que nos chega o sofrimento necessário. É preciso trazer as doenças programadas no perispirito, pois as doenças genéticas e as que apanhamos por outras razões não chegam.

Para mim, a única intervenção dos bons espíritos é na escolha do nosso corpo, se é que isso não é um processo automático. E as doenças, ou são genéticas, ou são contraídas segundo as causas que a ciência vai descobrindo.

Isto porque os animais têm tal qual o mesmo tipo de doenças, não se lhe podendo imputar responsabilidades. É absurdo pensar que as causas das doenças nos animais são diferentes das causas das doenças nos homens, a não ser em algumas doenças mentais. Mas mesmo aí é duvidoso. A depressão, por exemplo, é um estado de desamparo e os animais também podem entrar num estado de desamparo, que pode ser induzido em laboratório. Os medicamentos são todos testados em animais.

A nossa sorte não fica ao acaso, mas é determinada pelo corpo que encarnamos. O local e o meio onde nascemos vai condicionar toda a nossa vida. As doenças que contraímos devem-se à nossa exposição ambiental, aos nossos comportamentos e à hereditariedade. Não ás vidas anteriores. 

A diferença entre as pessoas, no que se refere à doença física, é a forma como lhe reagem (com revolta ou com paciência e resignação). Mas todos estão sujeitos à mesma, de acordo com as mesmas leis biológicas.

A ação dos bons espíritos, no sentido de nos escolher doenças, seria equivalente à acção de guardas prisionais que dessem pancada aos presos para lhes agravar a pena. Quem faz isso não são os guardas, se são pessoas bem formadas, são os outros presos. A cadeia é o castigo, bem como a vida numa planeta de provas e expiações é o castigo.

Então, se Deus permite o sofrimento físico, não nos dispensando dele, porque pode ser um remédio doloroso, não posso acreditar que as suas leis e os bons espíritos o fomentem, para garantir que as suas criaturas sofram mais do que as condições de vida precárias do planeta impõem.  E muito menos que façam isso aos animais.

Por essa razão, considero que as ideias de que os nossos perispiritos que vêm carregados de doenças, bem como a intervenção dos espíritos para levar o ovo a ser aquele que é necessário, não fazem sentido. São supersticiosas e contradizem a ciência. Há relações causa-efeito estabelecidas pelo método cientifico experimental. Para contrariar a ideia de que essas são erradas ou incompletas, é necessário encontrar evidências cientificas e provar isso cientificamente. Caso contrário estamos a dizer ás pessoas que a medicina pode não funcionar, o que pode empurrar as pessoas para curandeiros, ou para desistirem dos tratamentos médicos. Isso sim, pode ser uma falta grave, por parte de quem diz tal coisa. Esta conversa também retira a credibilidade ao espiritismo, nos meios científicos.

Bem hajam


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