terça-feira, 31 de julho de 2012

Bom dia eleitores e candidatos do Aracati!




A mesmice continua…

Continuamos a presenciar as mesmas atitudes dos políticos e dos eleitores, e com isso a população mais pobre e a cidade num todo é quem padece.
Uma despolitização quase que total dos eleitores. Não existe nenhuma avaliação pormenorizada sobre cada candidato, são um bando de “maria-vai-com-as-outras”.

… E a onda continua…!

Àqueles que têm, ou que deveria ter uma preocupação pela conservação desta cidade, em escolher os seus administradores, não se manifestam com medo de perder uma “boquinha” junto ao próximo prefeito (a).
Quem pensa que acabou o coronelismo e os currais eleitorais está engando, hoje eles estão mais fortes e modernos, agindo de maneira mais sutil.
O preocupante é que observamos pessoas que poderiam ser capazes de avaliar de modo mais criterioso, como professores, profissionais liberais de diversas áreas, etc, mas não, eles estão juntos…! Buscando um espaço, uma oportunidade para quem sabe conseguir um emprego para ele, seu filho, ou qualquer outro membro da família. Acha pouco o ignorante, as famílias que já são incorporadas ao funcionalismo público por conta dessa prática injusta e inaceitável que é a contratação (colocação de várias pessoas da mesma família) sem concurso público. Sim, porque se o próximo (a) prefeito (a) tiver um pouco de bom senso, compromisso e respeito pela cidade, não deve admitir uma situação desse tipo.
A população tem que entender que esse jogo de troca de interesses políticos é uma “desgraça/atraso” para a cidade. É preciso uma educação política para o nosso povo, e essa educação começa na medida em que os próprios candidatos evitam “comprar” votos, prometendo empregos e cargos em diversas áreas em seu governo.


sexta-feira, 27 de julho de 2012

A BUSCA DO PRAZER, SUAS LUTAS E SEUS CONFLITOS.


 O ser humano, indiscutivelmente, anseia por encontrar o prazer, ponto original da ambicionada felicidade, a qual merece destaque especial no processo evolutivo do Espírito encarnado.
Ele, o prazer, não deixa de ser um estímulo veemente para a criatura. Tanto isso se constitui numa realidade que, havendo uma frustração diante da busca, costuma-se dizer: “sou um azarado”, “não existe nenhum motivo para eu continuar vivendo”, “o melhor é desistir de tudo”...
Ignoram essas pessoas que a frustração não deixa de ser um item precioso no processo da nossa evolução, pois que, com ela, aprendemos a suportar o insucesso, passamos a perceber que nem tudo depende exclusivamente de nossas atitudes e ambições. Algo, muito além das nossas percepções, dirige nossos dias, nossos momentos...
De modo geral, estabeleceu-se que ser feliz é ter motivos para sorrir, mostrar-se bem-disposto, elegantemente vestido, aparecendo publicamente dentro de um veículo último tipo, preferencialmente estrangeiro, desfilando aprimorada sociabilidade, e por aí vai...
No entanto, atentemos para o fato de que tudo isso pode não passar de uma máscara afivelada à face dessas criaturas, escondendo sofrimentos, inseguranças, incertezas sobre si mesmas diante dos que as cercam.
O prazer tem sido direcionado para atendimentos imediatos onde os gozos mais fortes existam, tais como aqueles divertimentos estimulados pelo álcool, sexo, tabagismo e, naturalmente, as drogas aditivas e alucinógenas, perturbadoras.
Tal estado íntimo, alcançado pelo uso desses ingredientes, leva, é verdade, a diversões variadas, fortes e desnorteadoras, mas não ao real prazer, que pode ser vivido numa leitura saudável, na audição de uma boa música, em conversações agradáveis, numa convivência relaxante, em passeios e caminhadas pela praia ou pela mata...
O falso prazer, no final, exige da pessoa um repouso prolongado para refazimento energético, afetivo. Ele na verdade se perdeu, esvaziou-se de todas as características de gozo real.
O prazer precisa espraiar-se pelo sistema emocional da criatura, ao final dos momentos vividos que lhe deram origem, deixando-lhe sempre aquela sensação de bem-estar psicofísico, que podemos chamar de bem-estar espiritual.
Quantos esforços são despendidos na busca de um prazer, o qual, tão logo seja logrado, estiola-se, afrouxa toda a expectativa do ser, seu ânimo é jogado por terra, instalando-se a insatisfação, a frustração, o desânimo...
Os ilegítimos prazeres multiplicam-se até o grau de extravagâncias e aberrações, violências e agressividades, para substituírem um estado psicológico enfermiço de enfado que predomina em muitos seres, sempre surgindo nos instantes finais de suas buscas, pelo fato de não haverem preenchido, como era esperado, as reais necessidades de bem-estar que felicitam o Espírito empenhado na busca do verdadeiro prazer.
A história humana, de ontem e de hoje, notabilizou-se pela procura de divertimentos que tivessem continuidade, surgindo as lutas cruentas que terminavam em mortes nas arenas. Essas lutas persistem, com suas variações, nelas incluindo-se as lutas de animais sob os gritos dos jogadores que investem largos recursos para a vitória de seus animais “guerreiros”.
Nessas horas de criação de divertimentos, com jogos e violências, a imaginação do homem sempre se mostrou fértil e variável em atrativos, e quanto mais excitantes melhor. Foi aí que as pessoas começaram a perder o senso do prazer, transferindo-se para o divertimento da crueldade, da maldade, da falta de sensibilidade perante a dor do outro.
 Hoje, passados séculos, a violência ainda se espraia mostrando uma face enegrecida pela ignorância no que diz respeito ao verdadeiro prazer, aquele tão bem exemplificado pelo Cristo de Deus, Jesus, cuja atuação visava única e exclusivamente o bem-estar espiritual.
Os divertimentos atuais ganham da mídia um excelente auxiliar porque está em jogo o lucro.
O aumento da variedade de divertimentos leva os seus praticantes incautos às fugas psicológicas, à indiferença quanto à dor alheia, à ausência de solidariedade, porque nesses momentos a instalação do egoísmo é temporariamente invencível, deixando, após sua passagem, um rastro de insaciedade, onde não pode, de forma alguma, existir o prazer.
A ignorância com relação ao que o homem é, seu desconhecimento de que a Deus não se engana, é o que leva a criatura desavisada a permanecer num estado de ignorância que não tem limites.
Somente a dor poderá fazer o que o amor não conseguiu. Infelizmente, esta é a grande e iniludível realidade diante dessa busca desenfreada do prazer, do gozo.
Mais do que natural que surjam, agora ou depois, vários, muitos processos conflituados na criatura no íntimo de sua personalidade e no âmago de sua individualidade.
Somente através de uma terapia em que a razão e o bom senso tenham fincado suas raízes profundas, podem ser ofertados àqueles que se encontram nessa faixa de buscar prazeres e gozos fora do quadro real da espiritualização.
Muito esforço ainda será cobrado aos enganados gozadores da vida, até que eles se encontrem, depare-se com o verdadeiro prazer – o espiritual –, e por uma razão muito simples: ele é um Espírito, filho de Deus, criado para a perfeição, portanto, para ser feliz.

Reformador Maio/09

terça-feira, 17 de julho de 2012

SALVAÇÃO? NÃO OBRIGADO.




Por Sérgio Ribeiro

O homem primitivo, intimamente ligado à natureza que o rodeava, expressava de forma espontânea e verdadeira sua espiritualidade. Através de seu instinto sentia a existência do transcendental, sentimento esse que pulsava, de forma nítida, na essência energética daqueles seres simples e ignorantes, vazios de conhecimento, porém plenos de autenticidade. À medida que a civilização humana começou a galgar novos degraus da escala do progresso, deixando cada vez mais de ser instintiva, passou a reprimir para os porões do inconsciente as percepções inatas e verdadeiras. Deixando para trás a infância histórica, passou a humanidade a uma fase da contestação sistemática tal qual o adolescente que recusa a priori os conceitos estabelecidos. Na procura de respostas para as inúmeras indagações que acometem a mente humana, passa a duvidar até mesmo de seus instintos. A crença no extra físico, antes alicerçada na própria naturalidade dos sentimentos inatos, passa a ser substituída pela dúvida e, sobretudo, a exigir participação do racional.
Contudo, o homem moderno, esteja ele ligado à ciência ou à filosofia, procura cruzar a fronteira do racional e integrar-se aos valores percebidos por seu próprio psiquismo, de forma subjetiva. O paradigma mecanicista de Newton vem cedendo lugar à concepção de um universo energético aberto a outras dimensões. Não mais a atitude infantil do homem primitivo que apenas, por via inconsciente, aceitava a existência espiritual, nem tampouco a postura adolescente da rejeição preconceituosa de qualquer referência à espiritualidade. Estamos no alvorecer não só de um novo século, mas de um novo milênio. As perspectivas futuras apontam para uma ciência e uma religião não mais estanques, dogmáticas, preconceituosas e onipotentes. O universo passa a ser observado e sentido, não mais como uma matéria tridimensional. A multidimensionalidade da matéria, já admitida pela física moderna, abre as portas para a percepção da existência do mundo espiritual.
A humanidade já não se satisfaz com os preceitos rígidos das religiões dominantes. O homem é um ser que indaga e quer saber, afinal, quem é, de onde vem e para onde vai. A dissociação existente entre a ciência e religião, verdadeiro abismo criado pelos homens, levou os indivíduos a ter uma visão fragmentária da vida. Os conselhos religiosos, tão úteis em épocas remotas, hoje tornam-se defasados em relação à evolução contemporânea . As orientações dos ministros religiosos foram substituídas pelos médicos, psicólogos, pedagogos etc... O que frequentemente observamos é a deficiência de respostas às ansiedades íntimas do indivíduo ou da própria sociedade. O que lhes falta? Por que profissionais extremamente capacitados, sérios e estudiosos se sentem limitados para compreender o sofrimento humano?
Por que pessoas justas às vezes sofrem tanto, e concomitantemente, outras, egoístas, que se comprazem no sofrimento do próximo, prosperam tanto? Há quem viva semanas, meses ou poucos anos, enquanto outros vivem quase um século! Por quê? Por que para uns a felicidade constante e para outros a miséria e o sofrimento inevitável? Por que alguns seriam premiados pelo acaso com as mais terríveis malformações congênitas? Por que certas tendências inatas são tão contrastantes com o meio onde surgem? De onde vêm?
Não há como responder a essas questões, conciliando a crença em uma Lei Universal justa e sábia, se considerarmos apenas uma vida para cada criatura. O ateísmo e o materialismo são consequências inevitáveis da rejeição às crenças tradicionais, surgindo, naturalmente, pela recusa inteligente a uma fé cega em um Ser que preside os fatos da vida sem qualquer critério de sabedoria, e justiça. A cosmovisão espiritista, alicerçada no conhecimento das vidas sucessivas, onde residem às causas mais profundas de nossos problemas atuais, traz-nos respostas coerentes. O conceito de reencarnação propicia uma ampla lente através da qual poderemos enxergar a problemática das vidas. As aparentes desigualdades, vivenciadas momentaneamente pelas criaturas, têm justificativa nos graus diferentes de evolução em que se encontram no momento. Além disso, sabe-se, pelas leis da reencarnação, que cabe a todas as criaturas um único destino: a felicidade. A evolução inexorável é feita pelas experiências constantes e o aprendizado decorrente. Os atos da criatura ocasionam uma sequência de causas e efeitos que determinam as necessidades da reencarnação, a si própria, em tal meio ou situação; nunca existe punição; existe, sim, consequência lógica. Há colheita obrigatória, decorrente da livre semeadura, e sempre novas oportunidades de semear.
Cada ser leva para a vida espiritual a sementeira do passado, trazendo-a inconscientemente consigo ao renascer. Se uma existência não for suficiente para corrigir determinadas distorções, diversas serão necessárias para resolver uma determinada tendência a longa caminhada da vida. Nossos atos do dia-a-dia por sua vez, são também novos elementos que se juntam a nosso patrimônio energético, pois os arquivos que criamos são sempre no nível de campos de energia, influenciando intensamente, atenuando ou agravando as desarmonias energéticas estabelecidas pelas vivências anteriores.
A teia de nosso destino, portanto, não é exclusivamente determinada por nosso passado. O livre-arbítrio que possuímos tece também os fios dessa teia a cada momento, num dinamismo sempre renovado. A diversidade infinita das aptidões, ao nível das faculdades e dos caracteres, tem fácil compreensão. Nem todos os espíritos que reencarnam têm a mesma idade; milhares de anos ou séculos podem haver na diferença de idade entre dois homens. Além disso, alguns galgam velozmente os degraus da escada do progresso, enquanto outros sobem lenta e preguiçosamente.
A todos será dada a oportunidade do progresso pelos retornos sucessivos. Necessitamos passar pelas mais diversas experiências, aprendendo a obedecer para sabermos mandar; sentir as dificuldades na pobreza para sabermos usar a riqueza. Repetir muitas vezes para absorver novos valores e conhecimentos. Desenvolver a paciência, a disciplina e o desapego aos valores materiais. São necessárias existências de estudo, de sacrifícios, para crescermos em ética e conhecimento. Voltamos ao mesmo meio, frequentemente ao mesmo núcleo familiar, para reparar nossos erros com o exercício do amor. Deus, portanto, não pune nem premia; é a própria lei da harmonia que preside à ordem das coisas. Agirmos de acordo com a natureza, no sentido da harmonia, é prepararmos nossa elevação, nossa felicidade.
Não usamos o termo "salvação", pois historicamente está vinculado ao salvacionismo igrejista, uma solução que vem de fora. Na realidade aceitamos a evolução, a sabedoria e a felicidade para todas as criaturas. "Nenhuma das ovelhas se perderá", disse Jesus. Fazendo-nos conhecer os efeitos da lei da responsabilidade, demostrando que nossos atos recaem sobre nós mesmos, estaremos permitindo o desenvolvimento da ordem, da justiça e da solidariedade social tão almejada por todos.

Ricardo Di Bernardi
(publicado originalmente no Boletim do GEAE - 459)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Carta aberta aos aracatienses...




Aracati como cidade polo do Litoral Leste, tem uma população aproximadamente de 70.000 habitantes, um comércio invejável, estar entre as oito cidades do estado que mais arrecada, recebe benefícios da União, do Estado, e, possui um patrimônio natural capaz de causar inveja a qualquer outro município brasileiro. Tem um polo turístico que bem administrado, pode torná-lo como um dos principais do nordeste. Possui uma população flutuante em torno de umas 3.000 pessoas vindas de vários municípios vizinhos, inclusive dos Estados do Rio Grande do Norte, e da Paraíba.
A pergunta que não quer calar é: por que esta cidade até hoje não se desenvolveu a ponto de ser destaque entre as principais do Estado nos quesitos: indústria, emprego e renda?
Será que “enfincaram um corno de cabeça pra baixo na prefeitura” como falam algumas pessoas gozando da situação? Será que é pela burrice do nosso eleitor? Ou será que é simplesmente pela falta de politização da população em geral?
Será que nós com toda riqueza que temos vamos continuar sendo um entreposto comercial entre as cidades de Mossoró, Russas e Fortaleza?
É inadmissível que uma cidade do porte de Aracati continue sendo administrada como vem sendo desde a época imperial...
“Os súditos obedecem ao rei em troca de migalhas... As normas ditas devem ser cumpridas, portanto, tenham cuidado com os soldados do rei, pois os mesmos estão a averiguarem as suas atitudes contrárias aos interesses da coroa (...)”.
Que época romântica e ao mesmo tempo assustadora, mas que continua, ainda, como hábito dos nossos irmãos aracatienses...
Superficialmente olhando o nosso quadro político-eleitoral, nós temos uma eleição momentaneamente polarizada entre duas chapas: Ivan e Valdir, versus Ricardo e Regina. A gente pode observar duas candidaturas distintas:

Ivan Silvério. Profissional liberal da área da contabilidade, natural de Aracati, jovem, líder do movimento esportivo, com boas intenções para a cidade, popular, querido por muitos e sem nenhuma rejeição, pois se trata de uma pessoa idônea como homem público. Foi secretário de esporte no atual governo municipal, o qual deixou por não concordar com certas atitudes governamentais.

Valdir Menezes. Profissional liberal da área médica, natural de Aracati, jovem, popular, conhecido como um dos melhores médicos do Ceará em suas especialidades, administrador de um grande hospital o César Cals em Fortaleza, bem sucedido financeiramente, uma pessoa idônea, e, com boas intenções para a cidade.

Ricardo Sales. Sinceramente, eu não posso falar muito desse cidadão, pois não conheço a sua biografia, o pouco que eu sei é através de informações de terceiros, e isso não fica bem eu falar do que não sei, só sei que ele é um pequeno empresário no ramo do comércio e Vereador. Consta-me também que o mesmo foi aliado do prefeito atual o Sr. Expedito Ferreira na Câmara Municipal.

Regina Cardoso. Natural de Tabuleiro do Norte, não sei a sua formação educacional, parece-me que não concluiu nenhum curso superior, se concluiu me perdoe, mas não tenho informação de qual seria o seu curso. Foi secretária de ação social de Aracati, (na época em que seu falecido esposo Dr. José Hamilton era prefeito desse município), e, parece-me que trabalhou na Prefeitura de Icapuí, mas não sei a sua ocupação na referida cidade.

Portanto, meus queridos amigos aracatienses, pensem em quem pode melhor fazer por nossa cidade... Quais desses nomes, onde as biografias estão expostas têm a capacidade de contribuir para a retomada do progresso do nosso município.  Não tome nenhuma decisão precipitada, pense, reflita e escolha o melhor para a cidade e não para você particularmente.

ARTIGOS ESPÍRITAS - JORGE HESSEN: PRÁTICAS EXÓTICAS (republicação)

ARTIGOS ESPÍRITAS - JORGE HESSEN: PRÁTICAS EXÓTICAS (republicação): Sabemos que a Doutrina Espírita é pura e incorruptível. Porém, o movimento espírita, ou seja, a organização dos homens para praticá-la e ...

quarta-feira, 11 de julho de 2012

A ALMA DORME NO MINERAL?





É comum ouvirmos essa frase: "A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda no homem", cuja autoria é atribuída a Léon Denis. Só que, curiosamente, até hoje ninguém nos provou que ele tenha dito exatamente isso. Mas, na busca em que nos empenhamos para encontrá-la, acabamos por nos deparar com a frase verdadeira, vejamo-la:
Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente; a partir daí, o progresso, de alguma sorte fatal nas formas inferiores da Natureza, só se pode realizar pelo acordo da vontade humana com as leis Eternas. (DENIS, 1989, p. 123). (grifo nosso).
Obviamente que, mesmo em sentido figurado, dormir na planta não é o mesmo que dormir na pedra, que é o assunto que ainda causa polêmica em nosso meio. Bom, a questão é saber se o sucessor do codificador contrariou aquilo que foi dito por ele. Particularmente, acreditamos que não.
Inicialmente recorreremos ao que ele, Kardec, disse na Introdução da primeira edição de O Livro dos Espíritos:
Qualquer que seja, é um fato que não se pode contestar, pois é um resultado de observação, é que os seres orgânicos têm em si uma força íntima que produz o fenômeno da vida, enquanto que essa força existe; que a vida material é comum a todos os seres orgânicos e que ela é independente da inteligência e do pensamento: que a inteligência e o pensamento são faculdades próprias de certas espécies orgânicas; enfim, que entre as espécies orgânicas dotadas de inteligência e de pensamento, há uma dotada de um senso moral especial que lhe dá incontestável superioridade sobre as outras, é a espécie humana.
Nós chamamos enfim inteligência animal o princípio intelectual comum aos diversos graus nos homens e nos animais, independente do princípio vital, e cuja fonte nos é desconhecida. (KARDEC, 2004, p. 3). (grifo nosso).
Isso foi necessário apenas para verificar que, já na primeira edição desse livro, Kardec, sem meias palavras, disse que “a inteligência e o pensamento são faculdades próprias de certas espécies orgânicas”, definindo-as dessa forma:
Os seres orgânicos são os que têm em si uma fonte de atividade íntima que lhes dá a vida. Nascem, crescem, reproduzem-se por si mesmos e morrem. São providos de órgãos especiais para a execução dos diferentes atos da vida, órgãos esses apropriados às necessidades que a conservação própria lhes impõe. Nessa classe estão compreendidos os homens, os animais e as plantas. (KARDEC, 1987, p. 65) (grifo nosso).
Então, segundo Kardec, podemos classificar os seres orgânicos em homens, animais e plantas. Quando, no livro A Gênese, ele estuda o Instinto e a Inteligência (Capítulo III), faz diversas considerações, nas quais vamos encontrar alguma coisa para dirimir possíveis dúvidas. Diz lá:
O instinto é a força oculta que solicita os seres orgânicos a atos espontâneos e involuntários, tendo em vista a conservação deles. Nos atos instintivos não há reflexão, nem combinação, nem premeditação. É assim que a planta procura o ar, se volta para a luz, dirige suas raízes para a água e para a terra nutriente; que a flor se abre e fecha alternativamente, conforme se lhe faz necessário; que as plantas trepadeiras se enroscam em torno daquilo que lhes serve de apoio, ou se lhe agarram com as gavinhas. É pelo instinto que os animais são avisados do que lhes convém ou prejudica; que buscam, conforme a estação, os climas propícios; que constroem, sem ensino prévio, com mais ou menos arte, segundo as espécies, leitos macios e abrigos para as suas progênies, armadilhas para apanhar a presa de que se nutrem; que manejam destramente as armas ofensivas e defensivas de que são providos; que os sexos se aproximam; que a mãe choca os filhos e que estes procuram o seio materno. No homem, só em começo da vida o instinto domina com exclusividade; é por instinto que a criança faz os primeiros movimentos, que toma o alimento, que grita para exprimir as suas necessidades, que imita o som da voz, que tenta falar e andar. No próprio adulto, certos atos são instintivos, tais como os movimentos espontâneos para evitar um risco, para fugir a um perigo, para manter o equilíbrio do corpo; tais ainda o piscar das pálpebras para moderar o brilho da luz, o abrir maquinal da boca para respirar, etc. (KARDEC, 1993, pp. 64-65). (grifo nosso).
Nessa fala de Kardec fica claro que ele admite o instinto nas plantas, nos animais e nos homens. Mas, “o que tem a ver instinto com inteligência?”, poderia alguém nos perguntar. Pois bem, essa dúvida foi respondida pelos espíritos que afirmaram que o instinto é uma espécie de inteligência, uma inteligência não racional (resposta à pergunta 73). Um pouco mais à frente, ao comentar a resposta à pergunta 75, o codificador explica:
O instinto é uma inteligência rudimentar, que difere da inteligência propriamente dita, em que suas manifestações são quase sempre espontâneas, ao passo que as da inteligência resultam de uma combinação e de um ato deliberado.
O instinto varia em suas manifestações, conforme às espécies e às suas necessidades. Nos seres que têm a consciência e a percepção das coisas exteriores, ele se alia à inteligência, isto é, à vontade e à liberdade. (KARDEC, 1987, p. 69). (grifo nosso).
Portanto, pela ordem, as plantas, os animais e os homens possuem o princípio inteligente, variando apenas quanto ao grau de sua manifestação. Entretanto, até agora, não houve nada relacionado aos minerais terem esse princípio, ou que o mesmo tenha, por alguma vez, estagiado em seres inorgânicos. Coisa difícil de entender, já que esses seres não possuem vitalidade; portanto, não estão sujeitos ao “nascer-crescer-morrer”, ciclo indispensável para que ocorra o progresso intelectual desse princípio.
O esclarecimento a respeito do instinto de conservação, vai nos ajudar a clarear mais ainda essa questão, leiamos em O Livro dos Espíritos:
702. É lei da Natureza o instinto de conservação?
“Sem dúvida. Todos os seres vivos o possuem, qualquer que seja o grau de sua inteligência. Nuns, é puramente maquinal, raciocinado em outros.”
703. Com que fim outorgou Deus a todos os seres vivos o instinto de conservação?
“Porque todos têm que concorrer para cumprimento dos desígnios da Providência. Por isso foi que Deus lhes deu a necessidade de viver. Acresce que a vida é necessária ao aperfeiçoamento dos seres. Eles o sentem instintivamente, sem disso se aperceberem.”
728. É lei da Natureza a destruição?
“Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos.”
Do que concluímos que todos os seres vivos possuem a inteligência em algum grau, que a vida é necessária a seu progresso e que a destruição é necessária para que isso ocorra; então, no que concerne aos minerais, acreditamos que nada disso se aplica.
Voltando ao livro A Gênese, iremos encontrar uma fala de Kardec, que, a nosso ver, põe um ponto final sobre como ele via o assunto. Vejamos, quando ele fala da União do princípio espiritual e da matéria, no capítulo XI, item 10:
Devendo a matéria ser o objeto de trabalho do Espírito, para o desenvolvimento de suas faculdades, era necessário que pudesse atuar sobre ela, por isso veio habitá-la, como o lenhador habita a floresta. Devendo ser a matéria, ao mesmo tempo, o objetivo e o instrumento de trabalho, Deus, em lugar de unir o Espírito à pedra rígida, criou, para seu uso, corpos organizados; flexíveis, capazes de receber todos os impulsos de sua vontade, e de se prestar a todos os movimentos.
O corpo é, pois, ao mesmo tempo, o envoltório e o instrumento do Espírito, e à medida que este adquire novas aptidões, ele reveste um envoltório apropriado ao novo gênero de trabalho que deve realizar, como se dá a um obreiro ferramentas menos grosseiras à medida que ele seja capaz de fazer uma obra mais cuidada. (KARDEC, 1993, pp. 182-183). (grifo nosso).
Pelo que podemos deduzir dessa fala, não há como admitir que o princípio inteligente tenha se estagiado nos minerais, a não ser contrariando o que aqui foi dito por Kardec.
Na explicação da resposta à pergunta 71 (LE), o codificador faz a seguinte consideração:
A inteligência é uma faculdade especial, própria de certas classes de seres orgânicos e que lhes dá, com o pensamento, a vontade de agir, a consciência de sua existência e de sua individualidade, assim como os meios de estabelecer intercâmbio com o mundo exterior e de prover às suas necessidades.
Podem distinguir-se assim: 1º. - os seres inanimados, constituídos de matéria, sem vitalidade nem inteligência, que são os corpos brutos; 2º. - os seres animados não pensantes, formados de matéria e dotados de vitalidade, mas desprovidos de inteligência; 3º. - os seres animados pensantes, formados de matéria, dotados de vitalidade e tendo a mais um princípio inteligente que lhes dá a faculdade de pensar. (KARDEC, 1997,.p. 68).
Classificam-se, portanto, os reinos da natureza em três: o mineral, o vegetal e o animal, conforme essa ordem citada por Kardec. Assim, fica claro, pelo que ele coloca, que o reino mineral não tem vitalidade nem inteligência, o que também se confirma com: “A matéria inerte, que constitui o reino mineral, não tem senão uma força mecânica” (KARDEC, 1987, p. 245). Buscando-se também a questão 136a, veremos que a hipótese do princípio inteligente no mineral e de todo improvável, porquanto: “A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado de vida orgânica” (KARDEC, 1987, p. 91). (grifos nossos).
Conforme descobrimos, essa hipótese está nos livros No Mundo Maior e Evolução em Dois Mundos, da série André Luiz. Não seremos nós quem irá contestar o autor; entretanto, talvez por ousadia, questionamos a seguinte fala dele: “A crisálida de consciência, que reside no cristal a rolar na corrente do rio, aí se acha em processo, libertatório;...” (XAVIER, 1984, p. 45). Como um cristal, que rola no leito de um rio, “morre” para que a crisálida, que possivelmente esteja nele, passe para o estágio evolutivo seguinte? Quando nós usamos esses cristais, incrustando-os nas paredes de nossas casas, a crisálida ficaria ali presa indefinidamente? Devemos proteger os cristais como estamos querendo fazer em relação aos seres vivos dos outros reinos da natureza?
É por essas coisas que temos enorme dificuldade em aceitar tal premissa, que, também, se não estivermos enganados, não é aquela que encontramos nas obras da codificação.
Dessa forma nos alinhamos com outros autores, já consagrados no meio Espírita, que já responderam à pergunta, que dá título a esse nosso texto, com um sonoro não.
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Artigo originalmente publicado na Revista Espiritismo e Ciência, Ano 4, nº 46, pp. 29-32 e reproduzido com a autorização do autor
Referências bibliográficas:
DENIS, L. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Rio de Janeiro: FEB, 1989.
KARDEC, A. A Gênese, Araras-SP: IDE, 1993.KARDEC, A. O Livro dos Espíritos – Primeira edição de 1857, Itaim Bibi, SP: Ipece, 2004.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos, Araras-SP: IDE, 1987.
XAVIER, F. C. Evolução em Dois Mundos, Rio de Janeiro: FEB, 1987.
XAVIER, F. C. No Mundo Maior, Rio de Janeiro: FEB, 1984.
NETO, P. A alma dos animais: estágio anterior da alma humana?, Divinópolis-MG: Panorama Espírita, 2006.

DEUS JULGA PELAS OBRAS



Por Sergio Ribeiro

MATEUS: capítulo 7º, versículo 21. Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus; aquele, porém, que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse entrará no reino dos céus. — 22. Muitos me dirão nesse dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome, não expulsamos em teu nome os demônios e não fizemos em teu nome muitos prodígios? — 23. Eu então lhes direi: Nunca vos conheci; afastai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. — 24. Aquele que escuta as minhas palavras e as pratica é comparável ao homem ajuizado que construiu sua casa sobre a rocha. — 25. Veio à chuva, transbordaram os rios, os ventos sopraram e se arremessaram sobre essa casa e ela não caiu por estar edificada sobre a rocha. — 26. Aquele, porém, que ouve as minhas palavras e não as pratica se assemelha ao insensato que construiu sua casa na areia. — 27. Veio a chuva, os rios transbordaram, sopraram os ventos, precipitaram-se sobre essa casa e ela desabou e grande foi a sua ruína. — 28. Ora, terminando Jesus esses discursos, a multidão se admirava da sua doutrina, 29, porque Ele a instruía como tendo autoridade e não como os escribas e os fariseus.
O julgamento de cada criatura se baseia no de suas obras. Ë este um princípio intuitivo, uma verdade axiomática, a que só não se curvam os que ensinam e apregoam ser a Humanidade inteira responsável pela falta do primeiro homem, ao qual chamam Adão.
Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! Serão ouvidos. Quer dizer: não entrarão no reino de Deus aqueles cujas palavras não corresponderem aos seus atos. As palavras desses se perderão no espaço, sem chegarem ao Senhor.
Sempre e sempre devemos praticar o que ensinamos, apreciamos e encomiamos.
Porque, não basta nos extasiemos ante a lei de Jesus e digamos: é perfeita! Se nos não esforçarmos pelo nosso aperfeiçoamento, obedecendo-lhe, vã se tornará a nossa admiração.
Inútil será que nos proclamemos cristãos, desde que procedamos em oposição ao que nos ensinou e prescreveu o Cristo; que nos declaremos espíritas, se continuarmos quais éramos antes de conhecermos o Espiritismo; que nos afirmemos médiuns e usemos das faculdades mediúnicas que possuamos, se não pusermos em prática os ensinamentos que temos recebido, se não nos utilizarmos dessas faculdades com a consciência do nosso dever cristão, com o propósito de servir à causa da Verdade, que é a causa de Deus, e de concorrer para a melhora de nossos irmãos, dando-lhes testemunho dos sérios e constantes esforços que empregamos por progredir.
Compromete-se, praticando um abuso, o médium que não pratica a humildade e o desinteresse, que não usa das suas faculdades mediúnicas com o fim exclusivo de fazer, mediante o exercício contínuo da caridade, uma propaganda séria, útil e eficaz da lei de Jesus, corroborada pela sublime Doutrina dos Espíritos, seus mensageiros.
Para os espíritas, a prática da doutrina que professam é tudo, porquanto muito lhes será pedido, visto que muito lhes é dado. Cumpre, pois, nos preparemos, todos os que nos dizemos tais, para prestar contas exatas do que se nos confiou.
Pouco depois de haver escrito o que acabamos de resumir, a Sra. Collignon, médium pelo qual foram transmitidas ao Sr. J. B. Roustaing as revelações que se encontram na obra que ele publicou sob o título de “Revelação da Revelação”, passou a escrever, debaixo de nova influência mediúnica e com letra diferente, o seguinte:
“Não basta se diga que certa moral é sublime; cumpre pô-la em prática. Não basta ser-se cristão e mesmo cristão-espírita, se se não pratica a moral por mim ensinada.
Assim, pois, que os que queiram entrar no reino de meu Pai sejam seus filhos pelo coração e não de lábios somente, obedeçam com submissão, zelo e confiança às instruções que receberam e recebem hoje dos Espíritos, enviados de acordo com as minhas promessas, para ensinar progressivamente aos homens todas as coisas, para os conduzir à verdade e lembrar-lhes o que eu lhes disse.
 “Digam: Senhor, Senhor! mas digam-no do fundo de seus corações, correspondam seus atos às suas palavras e o reino dos céus lhes pertencerá.
Por aquele cuja mão protetora sustenta os humildes e os fracos e humilha os orgulhosos e os poderosos. — ISABEL.
Em seguida, também de modo espontâneo, o médium escreveu, sob a influência anterior e com letra igual à com que fora traçado o ensino que acabava de ser recebido, esta última comunicação:
“Bendizei do Senhor a graça que vos fez e pedi-lhe de coração o apoio daquele que se vos manifestou hoje, por intermédio do seu enviado. Perseverai no caminho que trilhais, tende confiança e fé, mas séria, e o Senhor estenderá suas mãos sobre vós, para afastar os obstáculos que vos possam deter”. — JOÃO, MATEUS, LUCAS.

Luiz Sayão
Elucidações Evangélicas

DOUTRINA ESPÍRITA – FALTA DE FORMAÇÃO DOUTRINÁRIA



Por Sérgio Ribeiro
Sem a formação doutrinária, não teremos um movimento espírita coeso e coerente. E, sem coesão e coerência, não teremos Espiritismo. Essa a razão por que os Espíritos Superiores confiaram às mãos de Kardec o pesado trabalho da Codificação. Kardec teve de arcar, sozinho, com a execução dessa obra gigantesca. Só ele estava em condições de realizá-la.
Depois de Kardec, o que vimos? Léon Denis foi o único dos seus discípulos que conseguiu manter-se à altura do mestre, contribuindo vigorosamente para a consolidação da Doutrina. Era, aparentemente, o menos indicado. Não tinha a formação cultural de Kardec, residia na província, não convivera com ele, mas soubera compreender a posição metodológica do Espiritismo e não a confundia com os desvarios espiritualistas da época. Depois de Denis, foi o dilúvio.
A Revista Espírita virou um saco de gatos. A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas naufragou em águas turvas. A Ciência e a Filosofia Espíritas ficaram esquecidas. O aspecto religioso da Doutrina transviou-se na ignorância e no fanatismo. Os sucessores de Kardec fracassaram inteiramente na manutenção da chama espírita, na França. E, quando a Arvore do Evangelho foi transplantada para o Brasil, segundo a expressão de Humberto de Campos, veio carregada de parasitas mortais que, ao invés de extirpar, tratamos de cultivar e aumentar com as pragas da terra. Tudo isso por quê? Por falta pura e simples de formação doutrinária. A prova está aí, bem visível, no fluidismo e no obscurantismo que dominam o nosso movimento no Brasil e no Mundo.
Os poucos estudiosos, que se aprofundaram no estudo de Kardec, vivem como náufragos num mar tempestuoso, lutando, sem cessar, com os mesmos destroços de sempre. Não há estudo sistemático e sério da Doutrina. E o que é mais grave, há evidente sintoma de fascinação das trevas, em vastos setores representativos que, por incrível que pareça, combatem por todos os meios o desenvolvimento da cultura espírita.
Enquanto não compreendermos que Espiritismo é cultura, as tentativas de unificação do nosso movimento não darão resultados reais. Darão aproximações arrepiadas de conflitos, aumento quantitativo de adeptos ineptos, estimulação perigosa de messianismos individuais e de grupos. Flamarion, que nunca entendeu realmente a posição de Kardec, e chegou a dizer que ele fez obra um tanto pessoal, como se vê no seu famoso discurso ao pé do túmulo, teve, entretanto, uma intuição feliz quando o chamou de bom senso encarnado. Esse bom senso é que nos falta. Parece haver se desencarnado com Kardec, e volatizado com Denis.
Hoje, estamos na era do contra-senso. Os mesmos órgãos de divulgação doutrinária que pregam o obscurantismo exibem pavoneios de erudição personalista, em nome de uma cultura inexistente. Porque cultura não é erudição, livros empilhados nas estantes, fichário em ordem para consultas ocasionais. Cultura è assimilação de conhecimentos e bom senso em ação. O que fazer diante dessa situação? Cuidar da formação espírita das novas gerações, sem esquecer a alfabetização de adultos. Mobral: esse o recurso. Temos de organizar o Mobral do Espírito. E começar tudo de novo, pelas primeiras letras. Mas, isso em conjunto, agrupando elementos capazes, de mente arejada e coração aberto. Foi por isso que propus a criação das Escolas de Espiritismo, em nível universitário, dotadas de amplos currículos de formação cultural espírita.
Podem dizer que há contradições entre Mobral e nível universitário. Mas, nota-se, que falamos de Mobral do Espírito. A Cultura Espírita é o desenvolvimento da cultura acadêmica, é o seguimento natural da cultura atual, em que se misturam elementos cristãos, pagãos e ateus. Para iniciar-se na cultura espírita, o estudante deve possuir as bases da cultura anterior. "Tudo se encadeia no Universo", como ensina, repetidamente, O Livro dos Espíritos. Quem não compreende esse encadeamento, tem de iniciar pelo Mobral. Não há outra forma de adaptá-lo às novas exigências da nova cultura. A verdade nua e crua é que ninguém conhece Espiritismo.
Ninguém, mesmo, no Brasil e no Mundo. Estamos todos aprendendo, ainda, de maneira canhestra. E se me permito escrever isto, é porque aprendi, a duras penas, a conhecer a minha própria indigência. No Espiritismo, como já se dava no Cristianismo e na própria filosofia grega, o que vale é o método socrático. Temos, antes de tudo, de compreender que nada sabemos. Então, estaremos, pelo menos, conscientes de nossa ignorância e capazes de aprender. Mas, aprender com quem? Sozinhos, como autodidatas, tirando nossas próprias lições dos textos, confiantes nas luzes da nossa ignorância? Recebendo lições de outros que tateiam como nós, mas que estufam o peito de auto-suficiência e pretensão? Claro que não. Ao menos isso devemos saber.
Temos de trabalhar em conjunto, reunindo companheiros sensatos, bem intencionados, não fascinados por mistificações grosseiras e evidentes, capazes de humildade real, provada por atos e atitudes. Assim conjugados, poderemos aprender de Kardec, estudando suas obras, mergulhando em seus textos, lembrando-nos de que foi ele e só ele o incumbido de nos transmitir o legado do Espírito da Verdade. Kardec é a nossa pedra de toque. Não por ser Kardec, mas por ser o intérprete humilde que foi, o homem sincero e puro a serviço dos Espíritos Instrutores. É o que devemos ter nas Escolas de Espiritismo.
Não Faculdades, nem Academias, mas, simplesmente, Escolas. O sistema universitário implica pesquisas, colaboração entre professores e alunos, trabalho conjugado e sem presunção de superioridade de parte de ninguém. O simpósio e o seminário, o livre-debate, enfim, é que resolvem, e não o magister do passado. O espírito universitário, por isso mesmo, é o que melhor corresponde à escola espírita. Num ambiente assim, os Espíritos Instrutores disporão de meios para auxiliar os estudantes sinceros e despretensiosos.
A formação espírita exige ensino metódico, mas, ao mesmo tempo, livre. Foi o que os Espíritos deram a Kardec: um ensino de que ele mesmo participava, interrogando os mestres e discutindo com eles. Por isso, não houve infiltração de mistificadores na obra inteiriça, nesse bloco de lógica e bom senso, que abrange os cinco livros fundamentais de Codificação, os volumes introdutórios e os volumes da Revista Espírita, redigidos por ele durante quase doze anos de trabalho incessante. Essa obra gigantesca é a plataforma do futuro, o alicerce e o plano de um novo mundo, de uma nova civilização.
Seria absurdo pensar que podemos dominar esse vasto acervo de conhecimentos novos, de conceitos revolucionários, através de simples leituras individuais, sem método e sem pesquisa. Nosso papel, no Espiritismo, tem sido o de macacos em loja de louças. E incrível a leviandade com que oradores e articulistas espíritas tratam de certos temas, com uma falsa suficiência de arrepiar, lançando confusões ridículas no meio doutrinário. Temos de compreender que isso não pode continuar. Chega de arengas melífluas nos Centros, de oratória descabelada, de auditórios basbaques, batendo palmas e palavreado pomposo. Nada disso é Espiritismo. Os conferencistas espíritas precisam ensinar Espiritismo - que ninguém conhece - mas para isso precisam primeiro aprendê-lo. Precisamos de expositores didáticos, servidos por bom conhecimento doutrinário, arduamente adquirido em estudos e pesquisas.
Expor os temas fundamentais da Doutrina, não é falar bonito, com tropos pretensamente literários, que só servem para estufar vaidade, à maneira da oratória bacharelesca do século passado. Esse palavrório vazio e presunçoso não constrói nada e só serve para ridicularizar o Espiritismo ante a mentalidade positiva e analítica do nosso tempo. Estamos numa fase avançada da evolução terrena. Nossa cultura cresceu espantosamente nos últimos anos e já está chegando à confluência dos princípios espíritas em todos os campos. A nossa falta de formação cultural espírita não nos permite enfrentar a barreira dos preconceitos para demonstrar ao mundo que Espiritismo, como escreveu Humberto Mariotti, é uma estrela de amor que espera no horizonte do mundo o avanço das ciências. E curiosa e ridícula a nossa situação. Temos o futuro nas mãos e ficamos encravados no passado mitológico e nas querelas medievais. Mas, para superar essa situação, temos de aprender com Kardec.
Os que pretendem superar Kardec, não o conhecem. Se o conhecessem, não assumiriam a posição ridícula de críticos e inovadores do que, na verdade, ignoram. Chegamos a uma hora de definições. Precisamos definir a posição cultural espírita perante a nova cultura dos tempos novos. E só faremos isso através de organismos culturais bem estruturados, funcionais, dotados de recursos escolares capazes de fornecer, aos mais aptos e mais sinceros, a formação cultural de que todos necessitamos, com urgência.
Texto de José Herculano Pires. O Mistério do Bem e do Mal. 2ª edição