quarta-feira, 28 de novembro de 2012

SOBRE A EDUCAÇÃO[1]

Discurso feito pelo jovem Hippolyte-Léon Denizard Rival (1804-1869)[2] “A EDUCAÇÃO moral depende de uma multidão de causas que parecem minuciosas e que no entanto têm uma grande influência, principalmente numa idade em que o caráter, semelhante à cera mole, é suscetível de receber todas as impressões. Frequentemente um vício se manifesta numa criança sem que possamos conhecer-lhe a causa; então jogamos a falta sobre a natureza, enquanto ela provém, talvez, de uma impressão que recebeu, e que se poderia ter evitado com mais precaução. Na maioria de nossas instituições, as punições que são empregadas, quase sempre muito severas, quase sempre infligidas com parcialidade e num momento de impaciência, irritam a criança; ela se revolta, se enraivece contra a autoridade, e é assim que lhe damos ocasião de ser mentirosa, colérica, desrespeitosa, insubordinada, etc.: ocasiões que poderiam ter sido evitadas. Devemos nos surpreender ao ver os jovens experimentarem desgosto por seus estudos, quando nas classes tudo respira tristeza, tudo é feito para desgostar do trabalho, eu diria mesmo para fazer odiá-lo? Com efeito, como as crianças podem amar uma coisa da qual não se lhes mostra senão o lado mais desagradável, de que se servem mesmo para as punir? Como elas poderiam amar as pessoas que estão sempre ocupadas em lhes atormentar, sob os caprichos das quais elas estão continuamente em luta? Como podem elas estimar essas pessoas, quando frequentemente vêm suas ações contrariar seus preceitos? Como podem elas se tornar justas, se se é parcial com elas? Como podem ser boas se são tratadas com crueldade? O espírito da criança, naturalmente pouco preocupado, observa todas as nuances, mesmo as mais delicadas, do caráter do seu mestre e sabe aproveitá-las com habilidade. Eu vi uma criança de dez anos empregar a bajulação com tanta arte, quanto o mais hábil cortesão. O caráter frágil de um mestre a havia feito tal. Eis como havia cumprido sua tarefa de professor, sem ter, no entanto, a mínima má intenção. Toda prudência se faz necessária quanto à conduta que temos diante das crianças, pois facilmente criamos nelas uma boa ou má impressão. Tudo, até o próprio tom com que lhes falamos, em certas circunstâncias, pode influenciá-las. Deve causar surpresa o fato de nelas se desenvolverem vícios dos quais se ignora a fonte? Uma criança pode se tornar afável com homens que se deixam dominar por suas paixões? Pode adquirir sentimentos nobres com almas vis? Pode aprender a ser boa com aqueles que a maltratam? Pode se tornar polida com um homem que não o é? Pode, em uma palavra, adquirir as virtudes sociais com aquele que não as possui? Sem falar dos vícios mais palpáveis, estão aí uma série de observações minuciosas que contribuem essencialmente para a formação do moral da criança. São essas atenções que se negligencia na maioria das instituições, e outras bem maiores, as quais se pode perceber sem esforços. Mas, dir-se-á, qual é o homem bastante paciente para entrar nesses pequenos detalhes? Quem é que tem suficiente império sobre si mesmo, para atentar sobre suas pequenas falas, sobre suas mínimas ações? Quem é que sacrificará, por assim dizer, sua existência, para não se ocupar senão em ser útil a seu aluno? Esse homem seria o ser por excelência. Eu respondo: O professor, tal como eu o entendo, e não um mercenário cujo objetivo é ganhar dinheiro, e que sacrifica tudo ao seu próprio interesse. A reunião de todas essas qualidades no mesmo indivíduo é difícil, eu o confesso; mas se ele não pode aspirar à perfeição, deve tratar de, pelo menos, dela se aproximar o máximo possível. A obrigação que um professor se impõe é bem difícil de preencher, é uma obrigação sagrada quando se quer fazer honrado. Alguém me perguntou um dia se existe um homem, tal como o que acabo de descrever, e se esse não seria um ser quimérico para o nosso século; pois eu não conheço, dizia ele, ninguém que não seja dominado por um espírito de interesse e de egoísmo, mesmo aqueles que querem parecer filantropos. Respondi que não censurava que se tivesse em vista um pouco o seu interesse, nessa parte, porque cada um deve assegurar seus meios de existência; mas que se faça disso um ramo de comércio, uma especulação; que se sacrifique o interesse (físico, moral ou intelectual) de seus alunos ao seu próprio interesse, eis o que censuro. Existem, no entanto, homens como os que descrevi, mesmo em nosso século; existem poucos, é verdade, mas é o que os torna ainda mais estimáveis. Provavelmente terei oportunidade de voltar a falar sobre este artigo, e aí darei a conhecer alguns desse homens." ________________________________________ [1] Le Petit Album de la jeunesse, par Alexandre de Villiers. Paris, 1825. Traduzido do francês pela Equipe do IPEAK. [2] Diretor de escola, membro da Academia da indústria, da Sociedade Universal de Estatística, do Instituto Histórico, da Sociedade gramatical, da Sociedade de Métodos, Correspondente da Sociedade de Emulação de Ain, etc. etc. Em 18 de abril de 1857, Hippolyte assume o pseudônimo de Allan Kardec, ao publicar o primeiro livro da Ciência Espírita, intitulado Livro dos Espíritos.

sábado, 24 de novembro de 2012

Por Que Não Seguimos o Exemplo De Kardec

O pesquisador Crysantho de Abreu, em seu livro "Allan Kardec e o Espiritismo" diz: "Há duas fases na vida de Allan Kardec:—uma anterior à constituição do Espiritismo, mais material, conquanto superior na ordem moral, outra inteiramente espiritual, que, admitindo e aceitando a doutrina nascente, faz dela a preocupação constante do resto de sua vida." Todas as qualidades morais, que concorrem para mar o homem de bem, foram logo desabrochando no jovem Hipólite Rivail e constituíram sempre o fundo do seu caráter. "Quando apareceu depois o grande movimento espírita de que foi diretor, era já um homem experimentado nas lidas da vida, contando já mais de cinqüenta anos, mas sendo guiado por uma consciência reta”. O Espiritismo não lhe trazer a transformação súbita do caráter. Não veio modificá-lo de chofre, dando-lhe imediatamente qualidades que possuía. Já o encontrou formado. Apenas o lapidou. Era já um espírito evoluído, com um longo tirocínio de outras existências e de outras missões, perfeitamente aparelhado, por. tanto, para desempenhar a nova missão que trazia. "Na vida a coragem nunca lhe faltou. Ele não desanimava nunca. A calma foi sempre uma das feições mais salientes do seu caráter. Ficando logo arruinado, perdendo toda sua pequena fortuna no começo da vida, sempre exercitou a caridade, e já casado com a mulher que foi depois, incansável na propaganda de suas idéias, ele consegue, por meio de um obstinado labor, readquiri-la quase toda no ensino, escrevendo ao mesmo tempo trabalhos didáticos, fazendo traduções de obras estrangeiras, ou preparando a escrituração de estabelecimentos comerciais.” Kardec se notabilizou, entre outras coisas, por seu espírito democrático, pelo defender o livre-pensar, por manter o respeito pelos interlocutores, mesmo quando discordava em defesa da doutrina, mas sempre respeitando todas as crenças e nunca fez nada que o desabonasse e nem a doutrina Mas, eis que de repente, quisemos ser mais Kardecs do que o próprio Kardec, quisemos ser mais reis do que o rei, quando o próprio rei foi humilde o tempo todo, no tratar e no ensinar. Fazendo uma metáfora é como se fossemos alunos incipientes do curso de Mestrado e Kardec já tivesse pós-Graduação em Doutorado. E ser Doutor significa dominar a matéria, enquanto que ser mestre significa estar apto a ensinar a matéria, mas nós somos ainda, alunos do Mestrado, ou seja, aqueles que ainda estão aprendendo para poder ensinar um dia, mas que ainda não são Mestres e muito menos Doutores em Espiritismo. Abaixo trago uma frase de Kardec, aquele a quem dizemos seguir em termos de espiritismo, quer pelo crivo da razão, que ele recomendou que passássemos tudo, quer pelo bom senso, mas nos esquecemos das aulas dele e só repetimos o que ele falou, mas não fazemos o que ele fez, pois so aprendemos o que nos interessa. Sei que alguns dirão que o livro de onde foi tirada a frase de Kardec (Obras Póstumas) não é doutrinário, por não ser Obra Básica, mas fazendo uma outra metáfora direi: - É como se Kardec fosse o Mestre-Cuca e as obras dele sobre espiritismo (incluindo as básicas) fossem os Livros de Receitas. Afinal, o Mestre-Cuca não tem autoridade para falar de suas receitas? Por que essa mania de querer saber mais do que Kardec e querer tomar dele as rédeas do que ele falou? Segue o Trecho (leiam com atenção e discordem de Kardec – se puderem): "A tolerância, sendo uma conseqüência da moral espírita, impõe-nos o dever de respeitar todas as crenças. Não se atirando pedras em ninguém, desaparece o pretexto das represálias, ficando os dissidentes com a responsabilidade de suas palavras e de seus atos. Se eu tiver razão os outros acabarão por pensar como eu, se eu não tiver razão, acabarei por pensar como os outros." Por Que Não Seguimos o Exemplo De Kardec e Em Vez Disso, Insistimos Em Ser Mais Kardecs Do Que Kardec?

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Os dois Voltaires

(Sociedade Espírita de Paris, grupo Faucherand - Médium: Sr. E. Vézy) (Revista Espírita, maio de 1862) Sou eu mesmo, mas não aquele Espírito trocista e cáustico de outrora. O reizinho do século dezoito, que dominava pelo pensamento e pelo gênio a tantos soberanos, hoje não mais tem nos lábios aquele sorriso mordaz, que fazia tremer os inimigos e os próprios amigos! Meu cinismo desapareceu diante da revelação das grandes coisas que eu tinha pretensão de saber, mas que só conheci no além-túmulo! Pobres cérebros demasiado estreitos para conterem tantas maravilhas! Humanos, calai-vos e humilhai-vos ante o poder supremo! Admirai e contemplai! É o que podeis fazer. Como quereis aprofundar Deus e o seu grande trabalho? Apesar de todos os seus recursos, a vossa razão não se quebra diante do átomo e do grão de areia que ela não pode definir? Eu empreguei a minha vida a procurar e conhecer Deus e seu princípio. Minha razão se enfraqueceu e eu cheguei ao ponto não de negar Deus, mas a sua glória, o seu poder e a sua grandeza. Eu o explicava desenvolvendo-se no tempo. Uma intuição celeste me dizia que rejeitasse tal erro, mas eu não escutava e me fiz apóstolo de uma doutrina mentirosa... Sabeis por quê? Porque, no tumulto e na confusão de meus pensamentos, num entrechoque incessante, eu só via uma coisa: meu nome gravado no frontão do templo da memória das nações! Eu só via a glória que me prometia essa juventude universal que me cercava e parecia saborear com suave delícia a essência da doutrina que eu lhe ensinava. Entretanto, empurrado não sei por qual remorso de minha consciência, quis parar, mas era tarde. Como toda utopia, todo sistema que abraçamos nos arrasta. A princípio segue a torrente, depois nos arrasta e nos quebra, tão rápida e violenta é por vezes a sua queda. Crede-me, vós que aqui estais à procura da verdade, encontrá-la-eis quando tiverdes tirado de vosso coração o amor às lantejoulas, que um tolo amor-próprio e um tolo orgulho fazem brilhar aos vossos olhos. Na nova via por onde marchais, não temais combater o erro e desafiá-lo, quando se erguer à vossa frente. Não é uma monstruosidade preconizarmos uma mentira, contra a qual ninguém ousa defender-se, pelo fato de saber-se que fizemos discípulos que ultrapassaram as nossas crenças? Vedes, meus amigos, que o Voltaire de hoje não é mais aquele do século dezoito. Eu sou mais cristão, porque aqui venho fazer-vos esquecer a minha glória e vos lembrar o que eu fui na juventude e o que eu amava em minha infância. Oh! Como eu gostava de me perder no mundo dos pensamentos! Minha imaginação ardente e viva percorria os vales da Ásia em busca daquele que chamais Redentor... Eu gostava de percorrer os caminhos que ele tinha percorrido. E como me parecia grande e sublime esse Cristo em meio à multidão! Eu acreditava ouvir a sua voz poderosa, instruindo os povos da Galileia, das bordas do Tiberíades e da Judeia!... Mais tarde, nas minhas noites de insônia, quantas vezes me ergui para abrir uma velha Bíblia e reler suas páginas santas! Então minha fronte se inclinava diante da cruz, esse sinal eterno da redenção, que une a Terra ao Céu, a criatura ao Criador!... Quantas vezes admirei esse poder de Deus, subdividindo-se, por assim dizer, e cuja centelha se encarna para fazer-se tão pequena, vindo entregar a alma no Calvário, em expiação!...vítima augusta cuja divindade eu negava, e que, entretanto, me fez dizer: Teu Deus que tu traíste, teu Deus que tu blasfemas; Para ti, para o Universo, Morreu nesses lugares! Sofro, mas expio a resistência que opunha a Deus. Eu tinha a missão de instruir e esclarecer. A princípio o fiz, mas o meu facho se extinguiu nas minhas mãos, na hora marcada para a luz. Felizes filhos do século dezenove e do século vinte, a vós é que é dado ver luzir o facho da verdade. Fazei que vossos olhos vejam bem a sua luz, porque para vós ela terá radiações celestes, e sua claridade será divina! VOLTAIRE Filhos, deixei que em meu lugar falasse um dos vossos grandes filósofos, principal chefe do erro. Quis que ele viesse dizer-vos onde está a luz. Que vos parece? Todos virão repetir-vos: “Não há sabedoria sem amor nem caridade”. Dizei-me, que doutrina será mais suave para ensinar que o Espiritismo? Nunca seria demasiado repetir-vos que o amor e a caridade são as duas virtudes supremas que unem, como diz Voltaire, a criatura ao Criador. Oh! Que mistério e que laço sublime! Ínfimo verme da Terra, que pode tornar-se tão poderoso que a sua glória atingirá o trono do Eterno!... SANTO AGOSTINHO

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Brasil um país de dependentes...!

O brasileiro ultimamente vêm demonstrando uma falta de amadurecimento político, uma insegurança e ao mesmo tempo uma dependência do outro... Esse outro está cada vez mais próximo de si mesmo. Buscam heróis constantemente para salvaguardar-se de alguma iniquidade cometida. Se não vejamos: bastou o ministro Joaquim Barbosa cumprir a Lei (com relação ao caso do mensalão), que alguns já os indicam par a presidente da República nas próximas eleições. Não é porque o ministro é negro, e condenou os réus do mensalão, que deve ser comparado a um herói capaz de "salvar" o Brasil? Aliás, gostaria de saber qual o motivo de tanta dependência e necessidade? O mundo sempre passou por períodos de turbulências, sejam elas físicas, ecológicas, financeiras e sociais (com uma ressalva no que diz respeito ao problema do desmatamento...). Na verdade, existe uma falta de preparo psicológico nas pessoas, justamente pela má educação recebida... O povo vive numa dependência religiosa a tal ponto, que precisa constantemente de "milagres" - Vejam a música mais cantada ultimamente por algumas comunidades religiosas! "... eu preciso de um milagre...". Barak Obama e Joaquim Barbosa já foram até comparados com Martin Luther King. Afinal, o que é preciso para que o brasileiro acorde para obter uma consciência universal da vida?

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Ponto de Mutação: A Visão Espírita

VIVA JESUS! Boa-tarde! queridos irmãos. Ponto de Mutação: A Visão Espírita 1. Um exame da atual experiência humana leva, inexoravelmente, à constatação de que ela vive uma de suas fases mais contraditórias, em que os extremos atingiram limites nunca antes alcançados. Jamais o progresso científico e o avanço tecnológico foram tão vertiginosos, como o observado nos últimos cem anos. Todavia, quanto ao aspecto moral, o homem não conseguiu caminhar no mesmo ritmo. Daí a razão por que os cientistas sociais são unânimes em reconhecer que o final do século passado e o início do atual constituem mais um ponto de mutação da Humanidade, cuja principal característica será a implantação de uma nova consciência, conforme acentua Leonardo Boff, em seu livro Feminino e Masculino, Uma nova consciência para o encontro das diferenças[1], escrito a quatro mãos com Rose Marie Muraro. De acordo com eles, “... é só recentemente, no final do século XX e no início do século XXI que podemos falar realmente da emergência de uma nova consciência. A aceleração histórica e a tecnologia se tornaram incontroláveis e imprevisíveis. Mais de 90% de todas as grandes invenções foram feitas nos últimos cem anos. Assim, a humanidade caminhou de uma lenta escalada para uma aceleração explosiva, principalmente depois da invenção das tecnologias eletrônicas, das quais a mais importante é a do computador, que dá início à Segunda revolução Industrial. Estamos vivendo, portanto, mais um “ponto de mutação” da nossa espécie, criador de uma nova consciência das novas estruturas humanas. Só que este é, talvez, o mais profundo de todos, tão radical quanto aquele que nos transformou de animais em seres humanos: nos primórdios integrados à natureza, os seres humanos também integrados entre si”. 2. Fritjof Capra[2] sustenta que a revolução da física moderna prenuncia uma revolução iminente em todas as ciências e uma transformação da nossa visão do mundo e dos nossos valores. Entende, também, que os movimentos sociais dos anos sessenta e setenta (o livro aqui citado foi escrito em 1981) representam uma nova cultura em ascensão, que, fatalmente, irá substituir as instituições vigentes, reconhecidamente obsoletas. O seu raciocínio se apoia nas tradições místicas orientais, com especial destaque para o I Ching, cujas palavras são utilizadas na abertura da referida obra: “O término de um período de decadência sobrevém do ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força... O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado, e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando daí, portanto, nenhum dano” (op. cit, s/n). 3. Essas opiniões, confrontadas com a realidade, dão a impressão de que não passam de utópicas esperanças de seus autores, e que é quase impossível alimentar qualquer expectativa mais otimista quanto ao futuro da Humanidade. A agressividade, tanto individual como coletiva, vem alarmando as autoridades das diferentes nações e os órgãos internacionais incumbidos de zelar pela paz mundial. A tecnologia a serviço do crime e da guerra dá uma dimensão exata dessa “era de perplexidades e contradições”, em que a fome e a miséria convivem no mesmo espaço com a fartura e a riqueza, o lixo com o luxo, a doença com a saúde, a guerra com a paz! As pesquisas de Erich Hobsbawm[3], professor aposentado do Birkbeck College da Universidade de Londres e, atualmente lecionando na New School for Social Research, de Nova York, concluem que, no século XX, mataram-se mais seres humanos do que em qualquer outra época. Mas, contraditoriamente, tais pesquisas apontam, também, que nunca se chegou a níveis de bem-estar e a transformações iguais aos observados nesse período. 4. Quem conhece a obra de Kardec não se espanta nem se admira diante dessa realidade. Em A GÊNESE, ele é por demais explicito ao afirmar que uma nova geração virá substituir aquela já velha e carcomida que ainda ocupava – e ocupa – seu lugar no mundo, o que implicará, necessariamente, uma série de sacudidelas no planeta. Adverte, porém, que tais sacudidelas não serão caracterizadas por grandes hecatombes de natureza física, porquanto ocorrerão no interior da própria Humanidade, cujas entranhas serão seriamente abaladas: “Hoje, já não são mais as entranhas do planeta que se agitam: são as da Humanidade” (p. 405). Publicada em janeiro de l868, encerra uma autêntica profecia em relação a todos os acontecimentos que ocorrem atualmente na Terra. No Capítulo XVIII, o Codificador faz uma síntese magistral da situação da Terra neste início de um novo ciclo. Tomando como ponto de referência a Lei do Progresso, ele destaca o duplo aspecto da evolução planetária, o físico e o moral, o que conduzirá à depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que povoam a Terra. Enquanto a primeira se realiza de forma brusca e caracterizada por impressões muito acentuadas, a outra segue um ritmo lento, gradual e insensível. Daí a razão da distância que ainda separa as duas formas de evolução. 5. O “ponto de mutação” dos filósofos e sociólogos, com todas as consequências que as grandes transformações sempre provocaram, está definido de uma maneira clara e incontestável no seguinte trecho da referida obra: “A Humanidade tem realizado, até ao presente, incontestáveis progressos. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Resta-lhe ainda um imenso progresso a realizar: o de fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral. Não poderiam consegui-lo nem com as suas crenças, nem com as suas instituições antiquadas, estos de outra idade, boas para certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, havendo dado tudo o que comportavam, seriam hoje um entrave. Já não é somente de desenvolver a inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento e, para isso, faz-se preciso destruir tudo o que superexcite neles o egoísmo e o orgulho” (p. 404). José Carlos Monteiro de Moura ________________________________________ [1] Boff, Leonardo e Muraro, Rose Marie – FEMININO E MASCULINO, Editora Sextante, Rio, 2002, pp 10 e 11. [2] Capra, Fritjof – O PONTO DE MUTAÇÃO, Editora Cultrix, 1987. [3] Hobsbawm – ERA DOS EXTREMOS – O breve século XX – 1914-1991 Cia. das Letras, São Paulo, 2003. [4] O HOMEM INTEGRAL, psicografia de Divaldo Pereira Franco, Livraria Espírita Alvorada – Editora, Salvador, Bahia, 1991, p. 60. Clique aqui para ler mais: http://www.forumespirita.net/fe/accao-do-dia/ponto-de-mutacao-a-visao-espirita-44903/#ixzz2BkriXS4Z