"Na vida,
as coisas funcionam por interdependências. Nada está isolado. Tudo é uno. É
preciso ter consciência disso. Onde há sinergia de aspiração e trabalho em
equipe, há progresso".
Em uma
história passada de geração a geração na Índia, dois garotinhos – um cego e um
perneta – estão brincando no meio da floresta, distantes e desconhecidos um do
outro, quando um enorme incêndio irrompe na mata. Desesperados, os meninos
começam a gritar por socorro e, por conta dos gritos, acabam se achando. Mas,
em pranto, eles só pensavam no pior, afinal, o garoto que tem pernas para fugir
não consegue ver o caminho, e o que tem olhos para enxergar a saída, além de
ser aleijado, está às cegas em meio à fumaça.
Tudo parecia
perdido quando, juntos, eles chegam à ideia de que seria a sua salvação: o
garoto perneta sobe nos ombros do cego e, do alto, pode ver a clareira para a
qual eles fogem em segurança, cada um sendo, respectivamente, as pernas e os
olhos de seu companheiro.
Infere-se daí
que a cooperação e a aceitação das diferenças constituem o alicerce das
relações humanas. Fazer algo para o outro é bom não só para o outro, mas para
quem assim procede. Nenhuma das crianças fez o que fez por mérito próprio, mas
por uma cadeia de méritos interligados a ambas. Cada uma, pois, desempenhou o
seu papel, individual e conjuntamente necessários.
Na vida, as
coisas funcionam por interdependências. Nada está isolado. Tudo é uno. É
preciso ter consciência disso. Onde há sinergia de aspiração, trabalho em
equipe, possibilidade de compartilhamento e cooperação há progresso. Isso
inclui a opção de aceitar a diversidade, de aprender a não fazer do diferente
algo que amedronte, mas, ao contrário, tornar-se cada vez mais receptivo para,
por meio do diferente, aprender ainda mais.
Por
conseguinte, torna-se imprescindível incentivar as pessoas a desenvolver a
sabedoria que se transforma em ação, que se transforma em amor e solidariedade.
O encontro amoroso envolve muito carinho, aceitação e serenidade. “Quem não se
envolve não se desenvolve”. Jesus elegeu como mandamento essencial: “Amar ao
próximo como a si mesmo”.
Finalmente, é indispensável
lembrar que tudo é transitório: “Que sentimento faz nascer a visão do Coliseu?
(...) Suas vastas e belas proporções lembram todo um mundo de grandeza; mas sua
decrepitude invariavelmente leva o pensamento para a fragilidade das coisas
humanas”. Tudo passa e somente a solidariedade é capaz de tornar a vida
profícua e durável.
Edilson
Santana é professor de Filosofia e
promotor de Justiça
Nenhum comentário:
Postar um comentário