terça-feira, 16 de outubro de 2012

FINADOS E MAUSOLÉUS






Finam-se todos os homens, sejam pobres, sejam ricos, mendigos ou potentados, súditos ou governantes. Mas o fim é apenas aparente, pois em realidade só se acaba o corpo físico, que esse é de matéria realmente perecível, por natureza transformável e corruptível. O Espírito, porém, que anima o corpo e é o ser real, esse é eterno, não se fina, jamais morrerá.
Houve na Antigüidade um país chamado Cária (em grego, Kária), situado no sudoeste da Ásia Menor, e colonizado pelos dórios. Pouco antes da Era Cristã, de 377 a 353 a.C., esteve esse povo sob a suserania do sátrapa Mausolo, soberano que instalou sua capital em Halicarnasso.
Como todo mortal, viu o fim de suas conquistas e glórias terrenas quando se imobilizou, rígido e frio, o corpo que lhe servira de instrumento às ambições e vaidades, e foi sepultado em um túmulo que, para ele, sua mulher, Artemísia II, mandou especialmente construir. Era, mais do que um túmulo, um verdadeiro monumento, com grande contorno quadrangular e ornamentado com colunas e relevos evocando cenas mitológicas. Mausoléu passou a chamar-se esse túmulo, mas toda a sua grandiosidade não conseguiu mudar a grande lei da ressurreição dos mortais em Espíritos, e Mausolo, por mais que ali tenha sido retido, junto a um corpo de onde a vida se evadira, seguramente dele acabou se libertando. A dezenas de outros corpos deve ter voltado, na sucessão dos renascimentos que lhe proporcionaram progressos e maiores graduações espirituais. Entretanto, mausoléus foram também, depois, chamados todos os túmulos suntuosos, que se erigiram na terra para perpetuar as vaidades dos homens.
Mausoléus magnificentes que vos situais, por privilégios, nos locais mais notórios dos campos santos; tumbas rasas inumeráveis, que muitas vezes desapareceis ocultas pelas ervas que crescem ao derredor; e - entre esses dois extremos - grandes e pequenos túmulos de mármore, com as inscrições que traduzem sentimentos de afeto ou de saudade, homenagens sinceras de amor e veneração ou simples tradições respeitáveis nos costumes dos povos; sois, todos, imperfeitas, mas, insopitáveis manifestações de piedosos sentimentos, que de algum modo exprimem também a intuição perfeitamente natural que tem o Homem de que não há morte e que uma vida mais esplendorosa que a Terra se ostenta além das raias sepulcrais! Por isso, só até certo ponto se compreendem as manifestações de piedosos sentimentos de afeto e de saudade junto aos túmulo vazios, oh! sim, totalmente vazios!
Em verdade não devem deter-se aí os pensamentos, porque os seres amados que buscam lembrar há muito ali não mais se encontram ou mesmo nunca ali se detiveram. A Sua criatura, Deus a fez para alçar-se, após cada etapa encarnatória, a planos sempre mais altos e mais felizes. É a ascensional escala espírita, que se vai galgando aos poucos, através de esforços continuados e renovados de aprimoramento intelectual e moral, por concessão divina de misericórdia aos mais culpados e devedores à Lei, e também por graça e recompensa aos devotados à prática das virtudes mais excelsas. Divina lei de progresso que, assim, nos acena com a dupla escalada dos Espíritos e dos mundos, desde os primitivos, onde torva materialidade impera, e os de expiações e provas, até os de regeneração, os felizes e os celestes, ou divinos. Expressão da Suprema Sabedoria, ficaria, entretanto, inoperante para os seres humanos se a não viesse completar outra lei, também divina - a dos renascimentos -, que tão bem concilia a bondade de Deus com a Sua soberana justiça.
Diante, pois, dos despojos inanimados daqueles que foram os nossos seres mais queridos e ante os túmulos grandiosos ou modestos em que eles foram depositados, um só pensamento nos domine - o da certeza de que o verdadeiro ser é o Espírito, que se liberta da prisão carnal para ressurgir redivivo sob outra dimensão e noutro plano, mas este tão real ou mais real que o nosso; e que uma prece se eleve tranquila e cheia de fé, em intenção da paz e da felicidade do ser querido que lembramos, e em louvor de nosso Pai Eterno.


Reformador (FEB)

Novembro 1982

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