Muito já se falou sobre o apelo contido na
abertura das Instruções dos Espíritos, Capítulo VI, item 5 de O Evangelho
Segundo o Espiritismo: Espíritas! Amai-vos, esse o primeiro ensinamento;
instruí-vos, esse o segundo..., apelo este que vem antecedido por um vigoroso
chamamento do Espírito Verdade: Escutai-me...
O escutai-me reforça o instruí-vos, ações sem as
quais não é possível a apreensão do conteúdo da Doutrina Espírita, nem de
conhecimento algum, ficando a pessoa, que é desinteressada, totalmente insulada
e mergulhada, por opção própria, na noite da ignorância.
A outra expressão imperativa do Espírito Verdade,
amai-vos, coloca-se como primeiro mandamento, indissoluvelmente ligado ao
instruí-vos, o segundo.
Dizemos indissoluvelmente ligado porque o amor
não dispensa instrumentos práticos para poder transformar-se em serviços, em
doações conscientes e competentes a beneficio do próximo, da vida, do progresso.
Quando Albert Schweitzer tomou conhecimento da
propaganda convocando voluntários para atender a miséria negra das selvas
africanas, sentiu-se tocado, e algo em sua alma falou-lhe que aquela seria a
obra de sua vida, a sua entrega verdadeira a Jesus.
Mas, antes de se engajar, ele refletiu procurando
saber como poderia ser útil aos seus irmãos sofredores.
" O que possuía, de concreto, no momento,
para ajudar?" - perguntou-se. O maior cultor de Bach, do mundo civilizado,
o organista exímio e filósofo laureado, homem totalmente aclimatado à polidez e
às exigências intelectuais e culturais dos movimentos de vanguarda de seu
tempo, chegava à conclusão de que nada era e nada tinha com que servir aos seus
irmãos quase primitivos das selvas africanas. Aí, ele decidiu preparar-se e foi
estudar Medicina, especializando-se em doenças tropicais a fim de poder ajudar.
Foi o Amor que o inspirou, dizendo-lhe: "Dá-me, Albert, instrumentos para
que eu possa agir...". E foi assim que o cidadão cósmico que viria a ser,
mais tarde, o detentor do Prêmio Nobel da Paz, após ter-se habilitado pelo
estudo e pela experiência, rumou para as florestas fechadas do Congo, às
margens do Rio Ogowe, na Africa Equatorial Francesa, para escrever uma epopéia
de amor a Deus e aos homens, convertendo-se num dos homens-símbolos do Mundo
Contemporâneo.
Na trilogia de Joanna de Angelis (1), o estudo
corresponde ao Qualificar que, juntamente com o Espiritizar e o Humanizar
formam um triângulo equilátero definidor de responsabilidades para o Centro
Espírita.
Viabilizar-se o estudo, encetar-se condições
básicas para que ele se realize é responsabilidade do Centro Espírita;
realizá-lo é tarefa do espírita.
Nesse sentido, estudar não é, apenas, proposta
para absorção de valores externos, de informações apenas, mas um convite
favorecedor do autodescobrimento através da reflexão atenta de todos os estímulos
que recebemos, inclusive dos conteúdos psíquicos que emergem de nosso
inconsciente, influenciando o comportamento pessoal. Justifica-se, assim, o
chamamento da Benfeitora espiritual aos médiuns e a todos nós: Estuda a
Doutrina Espírita e estuda-te (2).
Estudar, destarte, é palavra de ordem no
dicionário da vida, pois o saber descortina, aos olhos deslumbrados do homem, o
Mundo e a Criação Divina, suas leis, a beleza e harmonia que vigem em tudo,
facultando-o integrar-se nesse todo e em si mesmo, de forma ajustada e
consciente, felicitando e felicitando-se.
Recentemente, lemos, numa propaganda de
determinada empresa comercial, a seguinte frase:
"Aprender é ampliar o significado da
vida." Efetivamente, o saber representa renovação, descobertas,
possibilidades novas que se lançam de plataformas construídas a partir do que
já foi adquirido, impondo-se como necessidade vital. Particularmente, a
aprendizagem espírita é luz no caminho e nos meandros da alma humana, apontando
as saídas libertadoras para o formoso mundo do Si.
O saber espírita é tão importante para a prática
mediúnica, que Allan Kardec inicia e conclui O Livro dos Médiuns com uma
apologia ao estudo.
Nas primeiras linhas da introdução ele escreve:
"Todos os dias a experiência nos traz a
confirmação de que as dificuldades e os desenganos, com que muitos topam na
prática do Espiritismo, se originam da ignorância dos princípios dessa ciência,
e felizes nos sentimos de haver podido comprovar que o nosso trabalho, feito
com o objetivo de precaver os adeptos contra os escolhos de um noviciado,
produziu frutos e que à leitura desta obra devem muitos o terem logrado
evitá-los". (Grifos nossos)
E no final do livro, na última página e último
parágrafo, após advertir quanto aos cuidados que é preciso tomar para frustrar
a ação dos Espíritos embusteiros, ele coloca, enfático: "...Estudai, antes
de praticardes, porquanto é esse o único meio de não adquirirdes experiência à
vossa própria custa".
Recorrendo a O Livro dos Espíritos, obtemos
preciosos estímulos para valorização do estudo. Na questão 227, respondendo a
indagação de como se instruem os Espíritos errantes, os Benfeitores da
Humanidade informaram: "Estudam e procuram meios de elevar-se",
reforçando essa proposta na questão 967, ao afirmarem que a felicidade dos bons
Espíritos consiste em "conhecerem todas as coisas; em não sentirem ódio,
nem ciúmes, nem inveja, nem ambição, nem qualquer das paixões que ocasionam a
desgraça dos homens" tendo o amor que os une e o bem que fazem como fonte
de suprema felicidade.
Sintetizando essa proposta de harmonia e ventura
espiritual, vemo-la apoiada em três condições essenciais: o prazer do
conhecimento, que é o debruçar-se da inteligência sobre a Criação Divina a fim
de compreendê-la e dela participar conscientemente, a pureza, que é vitória
sobre as paixões materiais e o amor, que sustenta a vida e emula o ser a
doar-se incondicionalmente.
Recorrendo a Emmanuel (3), destacamos esses
lúcidos ensinamentos: "Já se disse que duas asas conduzirão o Espirito
humano à presença de Deus - Amor e Sabedoria". Depois de referir-se ao
amor, o Amigo Espiritual esclarece o papel da Sabedoria "que começa na
aquisição do conhecimento, através do qual se recolhe a influência dos
vanguardeiros do progresso", concluindo que estudar e servir são rotas
inevitáveis na obra da elevação, realçando que "o livro representa
vigoroso imã de força atrativa, plasmando as emoções e concepções de que nascem
os grandes movimentos da Humanidade...".
De Joanna de Angelis, em Estudos Espíritas –
Introdução - tomamos de empréstimo estas abençoadas reflexões:
Estudar o Espiritismo na sua limpidez cristalina
e sabedoria incontestável é dever que não nos é lícito postergar, seja qual for
a justificativa a que nos apoiemos.
Cada conceito necessariamente examinado reluz e
clarifica o entendimento, facultando mais amplas percepções em torno da vida e
dos seus fenômenos.
Estudar, pois, é atitude essencial à vida.
Estudar de todas as formas ao alcance: lendo,
ouvindo, refletindo, meditando e interagindo com as pessoas, com a Natureza,
consigo mesmo, aproveitando essa maravilhosa viagem da evolução, minuto a
minuto, com a consciência atenta para reter o que Deus tem para nos ofertar.
Projeto Manoel Philomeno de
Miranda
Livro: Consciência e mediunidade
1 - Novos Rumos para o Centro
Espírita, Divaldo P. Franco, Editora LEAL
(Opúsculo)
2 - Alerta, Capítulo 12, Joanna de Angelis, psicografia de Divaldo P. Franco, Editora LEAL
2 - Alerta, Capítulo 12, Joanna de Angelis, psicografia de Divaldo P. Franco, Editora LEAL
3 - Pensamento e Vida, Capítulo
4. Edição FEB.
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