Satanás presta inestimável serviço à Igreja Romana,
não só pelo terror que inspira no rebanho embrutecido, como principalmente pelo
dinheiro que por seu intermédio canaliza para o saco sem fundo da Igreja. E
satanás ou demônio é pau para toda obra, servindo às tentações, às artimanhas,
ao ódio, à cobiça, enfim, a uma atividade multiforme para arrastar as almas de
Deus às torturas do inferno que a conveniência da Igreja criou e mantém
auxiliada pela ignorância que ainda avassala grande parte do rebanho católico.
Nas pregações contra o Espiritismo, os padres
apontam como demônios os Espíritos que se manifestam, ainda que esses Espíritos
se apresentem como amigos, dando salutares conselhos, dentro do mais puro
Evangelho ou curando males crônicos da Humanidade sofredora.
De acordo com a Igreja, Satanás foi expulso do Céu e
constituiu um reino à parte, tornando-se, assim, rival de Deus. Nesse caso, se
o reino de Deus é partilhado por Satanás, que dirige o reino do mal, então Deus
deixa de ser absoluto, uma vez que abdica de atributos.
O saudoso escritor pernambucano Manoel Arão em seu
pungente livro - O Claustro, comenta: ‘o demônio existe de toda a eternidade ou
foi criado? No primeiro caso, seria incriado e, portanto, igual a Deus; no
segundo, seria obra de Deus e Deus não seria perfeitamente bom desde que
criasse o mal’.
Como se vê, não há saída que satisfaça à lógica.
Aliás, para o rebanho católico, em grande parte obscurecido pelo analfabetismo,
não há lugar para a lógica e dela prescinde porquanto os padres o dirigem a seu
modo dispensando-lhe até o trabalho de pensar.
E nesse rebanho alheio a qualquer raciocínio está o
grosso do Catolicismo. Nesse meio, Satanás tem muito o que fazer para regalo da
Igreja que, assim, o conserva como uma fonte perene de benefícios próprios.
Sabem os católicos instruídos, embora não discrepem,
que demônio (daimon), entre os gregos antigos, significava Espírito, havendo o
bom e o mau, como, por exemplo: o bom demônio de Sócrates. Platão chegou a
chamar a Deus - demônio onipotente (agathoaemones) e os maus (cacodaemones)
eram intermediários entre os deuses e os homens.
Satanás, como se sabe, não passa de uma alegoria,
representando apenas o mal, o qual não é eterno conforme divulga, de má fé, a
Igreja Romana, para melhor proveito junto à massa supersticiosa que ainda
acredita em pleno século XX, no inferno de ardentes caldeiras, no enxofre
fervente e no demônio de chifres e pés de pato. E muitos padres, principalmente
nos lugarejos do interior, justificam esse recurso afirmando que o mesmo é
necessário para regenerar o povo, quando o certo seria elucidá-lo, esclarece-lo
para melhor conpreensão da Justiça Divina. Isso, porém, não lhes convém, pois o
raciocínio levaria o povo a outras conclusões. A ignorância é muito útil ao
clero católico.
Se a Igreja de Roma, nos tempos do seu poder
absoluto, foi incapaz de regenerar a Humanidade, impossível seria conseguí-lo
na época presente em que a Humanidade inteira tem a faculdade de se esclarecer,
de pensar e de escolher o caminho conforme a razão.
Satanás que é apenas um símbolo, continua a servir a
Igreja como instrumento de terror e de fazer dinheiro.
Esta é a verdade.
Oswaldo Valpassos
Reformador (FEB) Outubro
1957
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