sábado, 12 de maio de 2012

26/04/2012 - Notícias
Eu amo a internet e detesto estudar
Curtir, comentar, compartilhar...É só começar! Quem frequenta, sabe. As redes sociais viciam.

Críticas ferozes, principalmente contra os jovens assíduos da web, proliferam nas rodas sociais. Até por instinto percebemos que eles “ passam horas lustrando a própria imagem”; “muitos não sobrevivem sem o olhar e o comentário dos outros”; “ parecem um exército de ‘Carlitos’ virtuais “; “ são iludidos, tem mil amigos, sendo 990 zumbis, uma dezena de conhecidos e desta dezena, apenas cinco realmente chegados e fiéis”.

Até aqui não vejo muito diferença entre a vida nas redes e no mundo real. Quem não depende de atenção, quem não é vaidoso, quem desconhece o valor do ombro de um “ único Zé”, e mesmo sabendo disso, quem não deseja ter “ amigos à beça”?

Duvidar da inteligência e da capacidade de discernimento dos milhões de jovens que dominam as redes e ferramentas da internet é um erro grave de pais e educadores.

O modo de operar dos jovens no Facebook, por exemplo, foi minha grande descoberta. Um momento de iluminação.

Bastava eu postar um recado para meus filhos e todos liam, todos discutiam, todos participavam! E eles não me rejeitaram, não me mandaram “procurar minha turma”. Ao contrario, fui acolhida de forma tão delicada, gentil e desarmada que até me envergonhei... Quando, na idade deles, eu daria permissão aos meus pais de participarem dos meus grupinhos de amigos? Nunca!

Os jovens nas redes virtuais fazem coisas que nós, “sábios adultos”, demoramos muito e talvez nunca aprendemos a fazer.

Eles curtem, comentam, compartilham. E tudo publicamente, de forma enxuta e transparente.

Os de minha geração e os mais velhos, em vez de curtir, aprendemos a reprimir ou a “curtir no escurinho”. Nada de comentar abertamente, manifestar  nossa opinião. Praticávamos a fofoca, a maneira mais cruel de comentar o alheio.

E finalmente, esses jovens ensinam a arte de compartilhar. Ah, essa grande arte das redes sociais, exercida sem sacrifícios e torturas revolucionárias... Os de minha época crescemos ignorando-a. Compartilhar!? Isso era utopia.
Aprendemos a competir, agarrar o que é o nosso com unhas e dentes. Dividir significava tomar, usurpar e tínhamos medo. Quantos conflitos, armados ou não, surgiram em torno dessa ação, que esses meninos e meninas resolvem com um simples “click”.

Acabou? Não. A rede é cheia de maravilhas. E talvez a mais importante - e também a mais invísivel aos  olhos adultos - foi trazida por essa mocidade do Facebook. Ela consiste na maneira peculiar como transmitem seus valores morais, sua ética, seus descontentamentos, suas alegrias e tristezas. Coisas aparentemente simples, mas que eu aprendi a revelar sem medo, depois de longos anos no divã da analista...Nada de diários secretos, guardados a sete chaves. Os sentimentos e aventuras estão ali expostos. Nós jamais poderemos lhes jogar no rosto que desconhecíamos o que faziam.  

Entre os amigos do Facebook não há "sermões da montanha", como os que eu ouvia de meus pais. Não existe a gritaria tão frequente numa vida em família, quando pretendemos colocar algo na cabeça de alguém. Não há o stress de ensinar e nem o stress de aprender, comuns nas escolas.

Não existe uma ideologia repassada a custas de sofrimentos, renúncias, fanatismos. Tudo é comunicado de forma honesta e, principalmente, leve e divertida. Exatamente isso que sobra na rede virtual,  falta no mundo das relações físicas.

Sei que me dirão: “os conteúdos são banais, levianos, até idiotas. Eles não passam nada, a não ser fotos de cachorrinhos e bebês, slides de autoajuda e de ajuda do Alto, opiniões sobre partidas de futebol e uma orquestra confusa de músicas e gostos musicais”.

Enganam-se. Eles passam muito mais que isso. Passam a leveza de ser, a leveza de ensinar, a leveza de aprender. O mundo no Facebook é divertido, descompromissado. E, no entanto, mantém todos presos.
Essa fórmula os jovens estão passando e nós, os velhos, pais e educadores não estamos vendo. .
“São levianos, vagabundos, dedicam-se mais ao mundo virtual do que às obrigações domésticas e escolares.”
Ora, se queremos que eles melhorem o conteúdo, então não os obriguemos a sair do Facebook.

A obrigação é nossa, de pais e educadores, entrar no mundo deles, atualizar nossa forma de compartilhar o conhecimento, tornar a família e a escola tão atraentes quanto as redes virtuais. A juventude já começou a construir o mundo novo - talvez o mesmo mundo com o qual sonhava na faculdade- e que nós, à luz de uma soberba cega, teimamos ignorar.

Por que pais e professores não se juntam a esses meninos na linda tarefa de tecer redes invisíveis? Seria uma ótima oportunidade para os novos e os velhos trocarem experiências sem  tapas no rosto e murros na mesa.

Ao escutar o novo, o velho rejuvenesce. Ao ouvir o velho, o novo amadurece. Hoje, muito mais que ontem, temos a ferramenta "adicionar"  o mundo deles e contamos com a vontade deles para sermos incluídos.

A vida escolar de hoje está para a vida no Facebook como a carroça está para uma nave espacial. Como podemos cobrar deles afeição e dedicação aos estudos? Longe das seduções tecnológicas e do modo divertido da vida virtual, os métodos de ensino patinam na mesmice e no tédio.

Os melhores momentos na escola são aqueles fora das salas de aula. Nos intervalos, na entrada e na saída, quando os alunos estão felizes. Reunidos, em turmas, ensinam a verdadeira pedagogia. Sem presunção, demonstram ao vivo e a cores o prazer de curtir, comentar e compartilhar suas experências.
Com uma rede de ensino arcaica, pesada e sem graça, será impossível evitar que os jovens amem a internet e detestem estudar.

PS: Desvalorizados, mal pagos e desestimulados, os professores também estão precisando aprender uma maneira de fazer do ensino uma diversão e arte e não uma tortura.
Agenita Ameno

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