26/04/2012 - Notícias
Eu amo a internet e detesto estudar
Curtir, comentar, compartilhar...É só começar! Quem frequenta, sabe. As redes sociais viciam.
Críticas ferozes, principalmente contra
os jovens assíduos da web, proliferam nas rodas sociais. Até por
instinto percebemos que eles “ passam horas lustrando a própria imagem”;
“muitos não sobrevivem sem o olhar e o comentário dos outros”; “
parecem um exército de ‘Carlitos’ virtuais “; “ são iludidos, tem mil
amigos, sendo 990 zumbis, uma dezena de conhecidos e desta dezena,
apenas cinco realmente chegados e fiéis”.
Até aqui não vejo muito diferença entre a
vida nas redes e no mundo real. Quem não depende de atenção, quem não é
vaidoso, quem desconhece o valor do ombro de um “ único Zé”, e mesmo
sabendo disso, quem não deseja ter “ amigos à beça”?
Duvidar da inteligência e da capacidade
de discernimento dos milhões de jovens que dominam as redes e
ferramentas da internet é um erro grave de pais e educadores.
O modo de operar dos jovens no Facebook, por exemplo, foi minha grande descoberta. Um momento de iluminação.
Bastava eu postar um recado para meus
filhos e todos liam, todos discutiam, todos participavam! E eles não me
rejeitaram, não me mandaram “procurar minha turma”. Ao contrario, fui
acolhida de forma tão delicada, gentil e desarmada que até me
envergonhei... Quando, na idade deles, eu daria permissão aos meus pais
de participarem dos meus grupinhos de amigos? Nunca!
Os jovens nas redes virtuais fazem coisas que nós, “sábios adultos”, demoramos muito e talvez nunca aprendemos a fazer.
Eles curtem, comentam, compartilham. E tudo publicamente, de forma enxuta e transparente.
Os de minha geração e os mais velhos, em
vez de curtir, aprendemos a reprimir ou a “curtir no escurinho”. Nada
de comentar abertamente, manifestar nossa opinião. Praticávamos a
fofoca, a maneira mais cruel de comentar o alheio.
E finalmente, esses jovens ensinam a arte de compartilhar. Ah, essa grande arte das redes sociais, exercida sem sacrifícios e torturas revolucionárias... Os de minha época crescemos ignorando-a. Compartilhar!? Isso era utopia.
Aprendemos a competir, agarrar o que é o
nosso com unhas e dentes. Dividir significava tomar, usurpar e tínhamos
medo. Quantos conflitos, armados ou não, surgiram em torno dessa ação,
que esses meninos e meninas resolvem com um simples “click”.
Acabou? Não. A rede é cheia de
maravilhas. E talvez a mais importante - e também a mais invísivel aos
olhos adultos - foi trazida por essa mocidade do Facebook. Ela consiste
na maneira peculiar como transmitem seus valores morais, sua ética,
seus descontentamentos, suas alegrias e tristezas. Coisas aparentemente
simples, mas que eu aprendi a revelar sem medo, depois de longos anos no
divã da analista...Nada de diários secretos, guardados a sete chaves.
Os sentimentos e aventuras estão ali expostos. Nós jamais poderemos lhes
jogar no rosto que desconhecíamos o que faziam.
Entre os amigos do Facebook não há
"sermões da montanha", como os que eu ouvia de meus pais. Não existe a
gritaria tão frequente numa vida em família, quando pretendemos colocar
algo na cabeça de alguém. Não há o stress de ensinar e nem o stress de
aprender, comuns nas escolas.
Não existe uma ideologia repassada a
custas de sofrimentos, renúncias, fanatismos. Tudo é comunicado de forma
honesta e, principalmente, leve e divertida. Exatamente isso que sobra
na rede virtual, falta no mundo das relações físicas.
Sei que me dirão: “os conteúdos são
banais, levianos, até idiotas. Eles não passam nada, a não ser fotos de
cachorrinhos e bebês, slides de autoajuda e de ajuda do Alto, opiniões
sobre partidas de futebol e uma orquestra confusa de músicas e gostos
musicais”.
Enganam-se. Eles passam muito mais que
isso. Passam a leveza de ser, a leveza de ensinar, a leveza de aprender.
O mundo no Facebook é divertido, descompromissado. E, no entanto,
mantém todos presos.
Essa fórmula os jovens estão passando e nós, os velhos, pais e educadores não estamos vendo. .
“São levianos, vagabundos, dedicam-se mais ao mundo virtual do que às obrigações domésticas e escolares.”
“São levianos, vagabundos, dedicam-se mais ao mundo virtual do que às obrigações domésticas e escolares.”
Ora, se queremos que eles melhorem o conteúdo, então não os obriguemos a sair do Facebook.
A obrigação é nossa, de pais e
educadores, entrar no mundo deles, atualizar nossa forma de compartilhar
o conhecimento, tornar a família e a escola tão atraentes quanto as
redes virtuais. A juventude já começou a construir o mundo novo - talvez
o mesmo mundo com o qual sonhava na faculdade- e que nós, à luz de uma
soberba cega, teimamos ignorar.
Por que pais e professores não se juntam
a esses meninos na linda tarefa de tecer redes invisíveis? Seria uma
ótima oportunidade para os novos e os velhos trocarem experiências sem
tapas no rosto e murros na mesa.
Ao escutar o novo, o velho rejuvenesce.
Ao ouvir o velho, o novo amadurece. Hoje, muito mais que ontem, temos a
ferramenta "adicionar" o mundo deles e contamos com a vontade deles
para sermos incluídos.
A vida escolar de hoje está para a vida
no Facebook como a carroça está para uma nave espacial. Como podemos
cobrar deles afeição e dedicação aos estudos? Longe das seduções
tecnológicas e do modo divertido da vida virtual, os métodos de ensino
patinam na mesmice e no tédio.
Os melhores momentos na escola são
aqueles fora das salas de aula. Nos intervalos, na entrada e na saída,
quando os alunos estão felizes. Reunidos, em turmas, ensinam a
verdadeira pedagogia. Sem presunção, demonstram ao vivo e a cores o
prazer de curtir, comentar e compartilhar suas experências.
Com uma rede de ensino arcaica, pesada e sem graça, será impossível evitar que os jovens amem a internet e detestem estudar.
PS: Desvalorizados, mal pagos e
desestimulados, os professores também estão precisando aprender uma
maneira de fazer do ensino uma diversão e arte e não uma tortura.
Agenita Ameno
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