A
lei da reencarnação é um claro e insofismável ensinamento que encontramos no
Evangelho de Jesus, no capítulo XVI:13 a 20, de Mateus ("Quem diz o povo
ser o filho do homem?"); em João, III:1 a 12 (colóquio com Nicodemos), e
IX:1 a 7 (cura de um cego de nascença).
Segundo
Anatole France, a Universidade de Paris, então corporação eclesiástica, foi a
principal responsável pela prisão e condenação de Joana d’Arc. Foi vendida pelo
conde de Luxemburgo, por proposta da universidade, aos ingleses que a odiavam,
por 10.000 libras, além de uma pensão vitalícia ao soldado que a prendera.
Pedro
Cauchon, bispo de Beauvais e aliado dos ingleses, dirigiu o processo de Rouen,
constituído o tribunal de padres católicos, que não permitiram nenhuma defesa.
Léon
Denis afirma que Joana d’Arc declarava ouvir de suas vozes: "Tem coragem!
Serás libertada por uma grande vitória"; e também: "Sofrer é
engrandecer-se, é elevar-se."
Foi
queimada viva em praça pública de Rouen, em 30 de maio de 1431. Quando as
labaredas começaram a atingi-la, bradou em estado de êxtase: "E as minhas
vozes não me enganaram, estou sendo libertada por uma "grande
vitória". Vislumbrava uma bela cena espiritual em que via Jesus vindo
pessoalmente ao seu encontro, acompanhado dos onze apóstolos e grande número de
espíritos de luz, que a felicitaram, embora ela no momento ainda ignorasse que
tivesse sido a reencarnação de Judas de Kerioth. Aliás, Judas era oleiro e
natural de Kerioth, povoado situado a 35 quilômetros ao sul de Jerusalém. Era o
único judeu entre os doze apóstolos.
A
igreja católica, após muitos anos, por pressão do povo francês, sob o comando
de Calixto III, mandou rever o processo, em 1455, reabilitando Joana d’Arc.
Mais tarde, em abril de 1909, beatificou-a, canonizando-a, finalmente, em 16 de
maio de 1920. O bispo Pedro Cauchon foi excomungado "post-mortem".
No
3º volume de Os Quatro Evangelhos, de J.-B. Roustaing, p. 207, 7ª edição, temos
as palavras probantes de Jesus de que o apóstolo Judas viria a estar em
situação idêntica à dos outros (Mateus, XIX: 28):
"Em
verdade vos digo que vós que Me seguistes, quando vier o Filho do Homem, ao
tempo da regeneração, estiver assentado no trono da sua glória, também estareis
assentados em doze tronos a julgar as doze tribos de Israel.
"Estas
palavras, cujo sentido ora conheceis, despojando o espírito da letra, Jesus as
dirigiu: tanto aos onze apóstolos que se conservariam fiéis, como a Judas
Iscariote que, sabia-o ele de antemão, viria a traí-lo, falindo gravissimamente
à sua missão. Provam elas, portanto, que, nos séculos futuros, ao tempo da
regeneração, Judas estará em situação igual à dos outros onze, provando,
conseguintemente, que vias e meios de purificação e de progresso moral e
intelectual lhe estavam reservados e lhe seriam proporcionados, com o auxílio
do tempo, como a todos os Espíritos culpados, consistindo na expiação e na
reencarnação que, conforme já dissemos, constituem o inferno, o purgatório, a
reparação e o progresso.
"Aquelas
palavras proclamaram previamente a falsidade do dogma humano, ímpio e
monstruoso, da eternidade das penas para o Espírito culpado; desse inferno
eterno que, segundo a Igreja romana, tragou para toda a eternidade a Judas
Iscariote, que essa mesma Igreja considera o maior dos réprobos, condenado
eternamente ao inferno eterno que ela instituiu."
Dentro
da lei de Justiça, Amor e Caridade, Joana d’Arc foi a última reencarnação
expiatória de Judas de Kerioth.
No
livro Joana d’Arc Médium, Léon Denis assim descreve:
"Ela
então se dirige a Isambard de la Pierre e diz: Eu vos peço, ide buscar-me a
cruz da igreja mais próxima; quero tê-la erguida bem defronte de meus olhos,
até o último instante. Quando lhe apresentaram a cruz, cobre-a de beijos e de
pranto. No momento em que vai morrer de uma morte horrível, abandonada por todos,
quer ter diante de si a imagem desse outro supliciado que, nos confins do
Oriente, no cume de um monte, deu a vida em holocausto à verdade.
"Os
carrascos põem fogo à lenha e turbilhões de fumaça se enovelam no ar. A chama
cresce, corre, serpeia por entre as pilhas de madeira. O Bispo de Beauvais
acerca-se da fogueira e grita-lhe: Abjura! Ao que Joana, já envolvida num
círculo de fogo, responde: "Bispo, morro por vossa causa, apelo do vosso
julgamento para Deus!"
"Alguns
minutos depois, em voz estridente, lança à multidão silenciosa, aterrorizada,
estas retumbantes palavras: "Sim, minhas vozes vinham do Alto. Minhas
vozes não me enganaram. Minhas revelações eram de Deus." Ecoa um grito
sufocado, supremo apelo da mártir de Rouen ao Mártir do Gólgota: "Jesus".
Examinando
a obra literária Crônicas de Além-Túmulo, psicografada por Francisco Cândido
Xavier, em bela passagem de uma entrevista do espírito Humberto de Campos com
Judas Iscariote, este, ao ser questionado por aquele se "chegou a
salvar-se pelo arrependimento", responde:
-
"Não. Não consegui. O remorso é uma força preliminar para os trabalhos
reparadores. Depois de minha morte trágica, submergi-me em séculos de
sofrimentos expiatórios da minha falta. Sofri horrores nas perseguições
infligidas em Roma aos adeptos da doutrina de Jesus e as minha provas
culminaram em uma fogueira inquisitorial onde, imitando o Mestre, fui traído,
vendido e usurpado. Vítima da felonia e da traição, deixei na Terra os
derradeiros resquícios de meu crime, na Europa do século XV. Desde esse dia, em
que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me
aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das
minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentido na fronte o ósculo do perdão da
minha própria consciência."
Conforme
se vê, Judas de Kerioth ou Joana d’Arc é de há muito, no plano espiritual, um
espírito liberto, dotado de imensa humildade, comprovando que as vidas
sucessivas no processo evolutivo nos dão a oportunidade de retornar ao caminho,
conhecer a verdade religiosa para a vida em plenitude que o Mestre Jesus traçou
(O Livro dos Espíritos, q. 625).
(Transcrito de O Franciscano, editado pela
Associação
Espírita Francisco de Assis, Rio de Janeiro, RJ,
no período de 1996 a 1998, revisto pelo autor
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